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Era câncer… O que o tumor não sabe é que ele também terá uma surpresa
Era câncer, mesmo, nem adiantou esperar que não fosse, como dito em A volta dos que não foram, 11 anos depois, aqui publicado em 2/7. A biópsia, em pedacinhos do pulmão direito colhidos em tomografia com agulha, o classificou como “carcinoma de células escamosas”. Atende, também, por câncer escamoso do pulmão. É um dos tipos que atacam este órgão, tido como o mais fiel ao tabagismo. Não faz nenhuma diferença se você parou de fumar pra lá de 15 anos, como no caso.
Vem daí a semelhança que possa ter com o tumor da orofaringe, de 11 anos atrás: está na origem, e não exatamente na volta dos que não foram. Mesmo duas décadas passadas sem nenhum mísero trago, a oncologista do presente queria saber, semanas atrás, desde quando, até quando e quantos maços. Desde uns 9 anos (Continental sem filtro, surrupiados do avô), até uns 50, chegando a três maços por dia (60 cigarros), e parando de uma vez com um enfarte que assustou. (O enfartado, previdente, tinha dois maços nos bolsos: um terminando, outro fechado).
O estágio do tumor é avançado, o que se define pela presença de dois outros no pulmão esquerdo, caracterizando metástase. Não fosse isso, era entrar na faca. Muita gente vive com um pulmão só. Mas há isso. E ainda virá, por garantia, grosso modo, uma cintilografia de corpo inteiro (PET-Scan) para ver se há mais. Crânio e abdome já estão descartados, segundo ressonância e tomografia, respectivamente. Já é ótimo.
O tipo é um inimigo insidioso, oculto, na melhor (ou pior) acepção das palavras. Cresceu e se multiplicou, lenta e silenciosamente, sabe Deus desde quando, sem vazamentos de leitura fácil (atenção ministro Gilmar), e sem atrapalhar em nada o cotidiano da vida.
O alvo seguiu (e segue) trabalhando. Mas agora se sabe, nas múltiplas informações sobre este tipo específico de tumor, que sua lista de sintomas inclui, entre outros, tosse, falta de ar, fadiga e perda de apetite e peso. Mesmo sem gravidade, como no caso. À exceção, talvez, do último item, que realmente marcou presença nos últimos seis meses. Mas como atribuí-lo a esta possibilidade, e não a algumas outras?
Quem diz oculto, nesses casos, pode acrescentar letal. É que o tipo estabeleceu, ao longo do tempo, sobrevida que varia entre 10/12 meses, para 50% dos casos, e vamos levando na fé e na coragem para a outra metade, com variações para mais ou menos. Há casos, já se conta, de alvos que chegaram a cinco anos pós-diagnóstico. Baita negócio.
O que o tumor ainda não sabe, enquanto vai aumentando os sinais de ocupação, é que ele também terá a sua surpresa: um ataque poderoso de imuno-quimioterapia, um tratamento bem avançado, com medicamentos de ponta de nomes impronunciáveis, como pembrolizumab. E, claro, efeitos colaterais que prometem causar, mas pode ser que nem tanto (como o de uma década atrás). Para quem queira detalhes, essa combinação da imuno e da químio foi esmiuçada em artigo acadêmico recente da The New England Journal of Medicine: “Pembrolizumab plus chemoterapy in metastic no-small-cell lung câncer” (disponível na rede). A primeira aplicação está prevista para este mês. Será que o tal já vai começar a ver o que é bom pra tosse?
Fonte: O Estado de S. Paulo