O corpo enfrenta o câncer

 Entender de que modo os tumores driblam o sistema imunológico e crescem foi sempre um dos desafios da medicina. Mas se por muitos anos a ideia de criar tratamentos para atiçar as defesas do corpo contra as células tumorais era uma entre outras possibilidades, agora se tornou a principal linha de investigação de cientistas, indústria farmacêutica e companhias de biotecnologia. Os primeiros resultados concretos desse esforço foram vistos na semana passada durante o congresso da American Cancer Society (Asco), realizado em Chicago (EUA).


Um dos estudos mais comentados foi executado na Universidade da Califórnia com 411 pacientes de melanoma (tumor de pele bastante agressivo) em estágio avançado. Todos haviam sido tratados com várias medicações, incluindo o ipilimumabe, a terapia mais atual contra a doença. Porém seus tumores haviam voltado a crescer. Os voluntários receberam uma substância injetável, o pembrolizumabe, que bloqueia uma proteína encontrada nas células de defesa, a PD-1. Por meio dela, um composto fabricado pelo tumor (PD-L1) penetra nas células do sistema imunológico e neutraliza seu poder de ataque ao câncer. Dos participantes do experimento, 72% apresentaram diminuição do tumor – 39% dos quais tiveram o câncer reduzido a menos da metade do tamanho. Quando foi combinado a outra droga, o nivolumabe, o resultado foi a elevação da sobrevida média de um ano para três anos e meio.

Espera-se que o remédio represente uma possível cura do melanoma, mas mais estudos são necessários. “Em alguns doentes com a doença avançada obtivemos a remissão total do tumor”, disse o líder da pesquisa, Antoni Ribas. Por causa dos resultados sem precedentes, a droga está sendo avaliada em regime de urgência pela FDA, a agência americana responsável pela aprovação de medicamentos. “Estamos diante da possibilidade de uma mudança de paradigma no tratamento do melanoma”, diz o médico Antonio Buzaid, diretor do Centro de Oncologia do Hospital São José, em São Paulo. A expectativa é de que a droga chegue ao mercado até o fim do ano. Ela também está sendo testada contra tumores de pulmão, bexiga e rim.

Outras substâncias imunoterápicas estão em teste. O cientista taiwanês John Lin, vice-presidente de imunoterapia do laboratório farmacêutico Pfizer, trabalha na identificação de outro composto envolvido na desativação do sistema de defesa, o 4-1bb. “Ele se expressa na maioria dos tumores”, disse à ISTOÉ. A Genentech, uma das mais destacadas empresas de biotecnologia, trabalha com a indústria farmacêutica Roche na criação de uma droga que estimule as defesas contra os tumores de bexiga e de pulmão.“Estou animado em ver pela primeira vez que a imunoterapia é uma realidade. Essa estratégia terá ampla aplicação contra a doença”, disse à ISTOÉ Clifford Hudis, presidente do congresso.

Fonte: IstoÉ
Autor: Mônica Tarantino