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Unesp de Assis alerta para o uso abusivo de medicamentos ansiolíticos
Uma recente pesquisa de doutorado defendida no Departamento de Psicologia da Unesp de Assis, apresenta uma proposta para retirar dos usuários medicamentos ansiolíticos do tipo BZD (benzodiazepinas), como Diazepam e Rivotril, sem recorrer às estratégias mais comuns como a substituição por outros ansiolíticos. O estudo teve alto índice de sucesso, com 45% dos pacientes fazendo a retirada total do medicamento.
A ideia da tese é debater e modificar as práticas de atendimento dos usuários de ansiolíticos para evitar a repetição de receitas e propor novas formas de cuidado que prescindam do uso de medicamentos. O estudo foi realizado em duas cidades brasileiras: em Assis e Goiânia (GO).
Na primeira etapa, foram avaliados 132 pacientes, usuários de Diazepam e Rivotril nos últimos três meses e que eram atendidos pela Estratégia Saúde da Família (ESF), um programa gerido pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Os pacientes avaliados apresentavam quadros leves de ansiedade, nervosismo e insônia.
Nessa etapa, um grupo de seis equipes de profissionais, entre eles, médicos, enfermeiros, agentes comunitários de saúde, que também acompanhavam os usuários nas ESF, realizou um trabalho de levantamento de prontuários e visitas às famílias dos participantes. “Esse momento foi importante porque fizemos o levantamento do perfil desses pacientes e mobilizamos os profissionais para que eles identificassem melhor aquela população”, diz Ionara Vieira Moura Rabelo, autora da pesquisa.
Na segunda fase da pesquisa, realizada somente na cidade de Goiânia, com 64 pacientes, equipes foram preparadas para fazer a retirada do BZD, levando em consideração que a dependência psicológica ao medicamento é ocasionada pela repetição de receitas usadas por tempo prolongado. Segundo a pesquisadora, “para evitar a repetição buscou-se modificar as práticas de atendimento das pessoas que usam o ansiolítico.”
Ao final, foram propostas pela equipe de profissionais a produção de duas cartas informativas para os pacientes, com o objetivo de conscientizá-los sobre o uso dos medicamentos. Além disso, foram realizados estudos de casos, visitas domiciliares e consultas individuais. A retirada do remédio foi feita no período de nove meses, de forma gradual (sempre acompanhada por médicos das equipes), e autorizada pelo médico prescritor principal da receita.
Segundo a pesquisadora, foi uma surpresa o número de pessoas que interrompeu o uso do ansiolítico apenas com as informações sobre a medicação, seja por meio da carta informativa ou das orientações recebidas pelas equipes.“Esse fato reforçou um dos princípios básicos da saúde coletiva, que é o de modificar processos de adoecimento por meio da oferta de informações para a comunidade”.
No Brasil, já é conhecido que entre as mulheres existe um alto consumo de BZD – a pesquisa mostra que elas são as que mais recebem a prescrição da droga, com índice duas vezes maior do que o grupo dos homens. Ainda assim, ambos os sexos fazem uso prolongado.
A pesquisa apontou que o consumo entre as mulheres inicia-se por volta dos 45 anos de idade, prolongando-se por 9,7 anos. Já os homens iniciam o uso ainda mais novos, com 41 anos e fazem o uso continuado do medicamento por cerca de 11,3 anos. Porém, dos 45% de pacientes que conseguiram fazer a retirada total do BZD, as mulheres tiveram mais sucesso: deste montante, 90% eram do sexo feminino.
Os dados mostram também que 65% desse grupo eram acompanhados apenas pelas equipes do SUS e 35% eram atendidas por especialistas. Já os médicos da ESF aparecem como o principal prescritor de ansiolíticos (34,1%). Logo depois vem o neurologista (29,5%) e o psiquiatra (21,2). Com relação à repetição da receita de BZD, o médico da saúde da família é o mais buscado (84%), seguido pelo psiquiatra (11%).
De acordo com Ionara, um ponto importante é que a pesquisa foi desenvolvida em unidades de saúde da família, consideradas porta de entrada para o SUS, presente em 93% dos municípios brasileiros e que atualmente já atende a 53% da população brasileira.
“A pesquisa abre a proposta de desmedicalização utilizando os recursos humanos já existentes na rede SUS e reforça que o vínculo entre as equipes de saúde e pacientes pode construir uma nova forma de cuidado que substitui o uso do medicamento”, conclui a pesquisadora.
Fonte: Fator Brasil