Novo tipo de cirurgia para parkinson passa em teste

 Um procedimento cirúrgico para o tratamento da doença de Parkinson em uma região alternativa do cérebro conseguiu recuperar até 84% dos problemas motores nos pacientes operados.

O estudo, recém-terminado, foi realizado no Hospital Santa Marcelina, em São Paulo, e envolveu 12 pacientes. Agora, será apresentado em junho no Congresso Mundial de Doença de Parkinson e Desordens do Movimento, em Estocolmo, na Suécia.

A melhora da qualidade de vida dos pacientes, medida por um índice universal (PDQ-39), que contempla campos como mobilidade, cognição, estigma, comunicação, entre outros, foi de 62%.

Os alvos mais comuns para o tratamento cirúrgico do parkinson são as regiões cerebrais conhecidas como globo pálido e núcleo subtalâmico. O alvo escolhido no novo estudo é o chamado ca mpo de Forel, descrito pela primeira vez nos anos 1960, mas pouco estudado devido à dificuldade de localização da região, bastante pequena.

“Temos justificativas anatômicas e bioquímicas para investir nessa região“, diz o neurocirurgião Fábio Godinho, líder do estudo. “Anatomicamente, o campo de Forel é uma região de convergência de fibras nervosas que saem de um local bastante envolvido no mecanismo da doença de Parkinson“. A melhora dos outros parâmetros motores variou de 73% a 83%.

Godinho explica que os resultados obtidos são no mínimo muito similares aos conseguidos nos alvos clássicos.

“Os resultados são interessantíssimos e chamam a atenção“, diz o neurocirurgião Paulo Thadeu Brainer, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Estereotaxia e Neurocirurgia Funcional (SBENF).

Mas segundo Arthur Cukiert, atual presidente da SBENF, é preciso destacar que a intervenção no campo de Forel ainda é experimental. “É uma região que vem sendo estudada, mas ainda não se pode dizer que é melhor do que os alvos clássicos“, diz.

CONTROVÉRSIA 

Uma característica importante do estudo foi a opção pelo procedimento ablativo (também conhecido como lesão), ao invés da estimulação cerebral profunda, o outro procedimento cirúrgico possível. A opção pela lesão suscita controvérsias, já que há especialistas que são contra a técnica, considerada ultrapassada, e há os que a consideram importante e necessária.

Na ablação, após identificado o alvo, realiza-se, por radiofrequência, uma microlesão, de cerca de 5 mm de diâmetro, no local. O procedimento custa um terço do valor do implante de eletrodo.

“Uso os dois métodos, mas há pacientes para os quais a estimulação com eletrodos pode trazer mais problemas que benefícios“, diz Godinho. A possibilidade de descuido com o aparelho pode gerar mal funcionamento. Além disso, a carência de equipes capacitadas a programar a estimulação e a dosar as medicações no pós-operatório são pontos contra essa técnica.

Arthur Cukiert diz que “a rigor, não se deve fazer lesão em mais ninguém“. Segundo o médico, não é que a lesão não funcione, mas sendo um procedimento irreversível, se algo der errado, não se pode voltar atrás. “Tudo o que é possível fazer com a lesão, faz-se muito melhor com a estimulação“, completa.

Para Paulo Thadeu Brainer, porém, métodos ablativos para o tratamento de parkinson nunca sairão do `menu` do neurocirurgião. “Mesmo dispondo de eletrodos, eu realizo lesões em alguns pacientes“. Segundo ele, “o paciente que precisa do eletrodo não é o mesmo paciente que necessita da ablação“.

Fonte: Folha de S. Paulo