Obesidade e anticoncepcionais aumentam risco de esclerose múltipla, sugerem estudos

 Mulheres que usavam pílulas tinham 35% mais chance de desenvolver a doença; obesos eram duas vezes mais propensos

FILADÉLFIA - Jovens obesos e mulheres que tomam pílulas anticoncepcionais são mais propensos a desenvolver esclerose múltipla, é o que mostra dois estudos que serão apresentados na próxima reunião anual da Academia Americana de Neurologia, que será realizada em abril na Filadélfia.

Enquanto a pílula anticoncepcional pode aumentar em 35% a chance de uma mulher desenvolver a doença, o risco pode ser duas vezes maior para aqueles com obesidade. Nos dois casos, hormônios estariam ligados ao mecanismo de ativação da esclerose múltipla.

Aproximadamente 2,5 milhões de pessoas no mundo vivem com a doença e 200 pessoas são diagnosticadas a cada dia. A esclerose múltipla afeta a mielina, uma camada protetora que envolve as fibras do sistema nervoso central. Os sintomas variam de dormência, fraqueza muscular e problemas oculares à rápida deterioraçã o, podendo causar paralisia parcial ou completa.

Até o momento, não se sabe exatamente o que causa a esclerose múltipla. Alguns pesquisadores acreditam que a danificação da mielina faz com que o sistema imunológico do corpo atue de forma anormal e ataque o sistema nervoso central.

Pílulas anticoncepcionais

O estudo que envolveu o uso de contraceptivos foi realizado por pesquisadores do Centro Médico Kaiser Permanente, na Califórnia. Eles analisaram 305 mulheres que tinham sido diagnosticadas com a esclerose múltipla ou com a síndrome clinicamente isolada - um precursor da doença.

As mulheres eram acompanhadas no centro três anos antes de desenvolver a doença. Seus resultados foram comparados com os de 3.050 mulheres saudáveis. Os cientistas observaram que 29% das mulheres com esclerose múltipla tomaram hormônios contraceptivos por pelo menos 3 meses antes dos sintomas aparecerem, enquanto 24% das mulheres saudáveis tinham usado pílulas anticoncepcionais - a maioria com uma combinação de estrogênio e progesterona.

De acordo com os pesquisadores, o resultado revela que as mulheres que usaram pílulas eram 35% ma is propensas a desen volver a doença em comparação com que as que não as utilizavam.

— Estes resultados sugerem que o uso de contraceptivos hormonais podem estar contribuindo, pelo menos em parte, para o aumento da taxa de esclerose múltipla entre as mulheres — disse Kerstin Hellwig, líder do estudo, ao “Daily Mail”. — No entanto, pode haver algum fator ambiental que não tenhamos sido capazes de identificar, não estamos dizendo que as mulheres devem parar de usar a pílula.

Obesidade

Já a pesquisa liderada por Jorge Correale, do Instituto Raúl Carrera de Pesquisa Neurológica de Buenos Aires, na Argentina, analisou a ligação entre o índice de massa corporal (IMC) de 420 indivíduos com 15 ou 20 anos e a esclerose múltipla.

Dos participantes, de ambos os sexos, 210 tinham a doença, enquanto os outros 210 eram saudáveis. Segundo os pesquisadores, os obesos na idade de 20 anos eram duas vezes mais propensos a desenvolver a esclerose múltipla em comparação com indivíduos da m esm a idade que não eram obesos.

Correale acredita que altas concentrações de leptina - um hormônio produzido pelo tecido adiposo que regula o peso, o apetite e a resposta imune - poderia ser a explicação da ligação entre os dois distúrbios.

— A leptina promove respostas inflamatórias no corpo, o que poderia explicar a ligação entre obesidade e a esclerose múltipla — explicou.

Fonte: O Globo - RJ