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Diabéticos cada vez mais jovens
O número de pessoas diabéticas não para de crescer no Brasil, e os índices já se igualam aos dos Estados Unidos, onda há uma das piores epidemias de obesidade do mundo.
Os dois países já têm 9,2% da população com diabetes — em 2010 o Brasil tinha 6,4%.
Os dados de n ovembro estão no relatório da Federação Internacional de Diabetes (IDF, na sigla em inglês), ligada à Organização Mundial de Saúde (OMS).
O Brasil não tem dados específicos, mas especialistas garantem que o diabetes está atingindo cada vez mais adolescentes.
Eles se baseiam na prática diária e em alguns estudos sobre a população dos Estados Unidos, como do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), órgão do governo federal que mostrou que 23% das crianças em 2008 tinham pré-diabetes e diabetes tipo 2, contra 9% no ano 2000.
— Com o aumento da obesidade, aumenta o diabetes tipo 2. E como a nossa população vem assumindo cada vez mais padrões similares aos da cultu ra americana, incorporamos também os males — comenta Marcus Leitão, doutor em Endocrinologia pela UFRJ e médico do Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia (Iede).
— As projeções são as mais sombrias possíveis. Talvez até antecipemos as estimativas de 2030 para 2020.
A federação distribui os países em quatro grupos, de baixo a alto risco.
Entre 2010 e 2013, o Brasil saiu do médio baixo para o médio alto. Em números absolutos, o país está quase no topo do ranking: 11,9 milhões de indivíduos sofrem hoje com o diabetes, atrás de China (98 milhões), Índia (65 milhões) e Estados Unidos (24 milhões).
Está em primeiro lugar na América Latina, inclusive no número de mortes em decorrência da doença: foram 122 mil só este ano.
A expectativa é que em 2035 existam 19,2 milhões de diabéticos no país.
Envelhecimento da população, assim como obesidade, sedentarismo e consumo de gordura só avançam no país, segundo informações do IBGE e do Ministério da Saúde (pelo Vigitel).
Tanto que o governo determinou a redução gradual do sódio de produtos industrializados, medida que só será percebida nas próximas décadas.
Em investimentos, segundo a IDF, o país gastou US$ 1.477 por diabético em 2013.
Enquanto isto, nos Estados Unidos, apesar dos índices alarmantes, a situação é oposta: passou de 10% em 2010 para 9,2% este ano.
E o investimento foi de US$ 9,8 mil em 2013.
— Se não houver mudanças radicais, o Brasil ultrapassará os Estados Unidos.
Lá, até a mulher do presidente Barack Obama, Michelle, há alguns anos já vem se empenhando em medidas para a mudança da alimentação, eles estão começando a mudar — lembra a Vivian Ellinger, diretora da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (RJ) e professora de pós-graduação de Endocrinologia da PUC-Rio.
Um levantamento com 600 pessoas realizado pela sociedade no Rio, no ano passado, mostrou que cariocas também precisam se cuidar mais: 45% dos examinados têm risco elevado de ter diabetes.
Riscos moderado e discretamente elevado somaram 40%. E baixo risco, apenas 18% do total.
— Estas pessoas não tinham sido diagnosticadas, mas apresentavam fatores de risco fortes (nível de gordura, circunferência do abdômen, hereditariedade, entre outros) para desenvolver a doença — explica Vivian.
— Uma preocupação de médicos é exatamente o fato de ela ser silenciosa.
Sinais mais conhecidos, como u rinar muito, só ocorrem quando a glicose está acima de 180 mg/dl, enquanto que em 126mg/dl já é considerado diabetes.
Por não apresentar sintomas, estimase que no Brasil 2,8 milhões de pessoas têm a doença sem saber, segundo informações da IDF.
E a única forma de ter certeza é por meio de exames.
Também ligado à obesidade, o diabetes gestacional é outro tipo ainda negligenciado por muitos.
— Este índice certamente também vem aumentando. Então, aconselhamos que mulheres interessadas em engravidar façam antes um rastreamento.
Além de afetá-la, a doença afeta também a saúde do bebê — afirma Vivian.
AUMENTO TAMBÉM DO DIABETES TIPO 1
É bom lembrar que pelo menos 80% dos casos de diabetes são do tipo 2, o que está intimamente relacionado com a obesidade e o estilo de vida.
O tipo 1 é uma doença autoimune e exige que o indivíduo receba doses diárias do hormônio insulina.
Hoje há uma incidência de 10,4 por 100 mil habitantes de 0 a 14 anos no Brasil.
Geralmente acomete os mais jovens, mas até estes padrões vêm se modificando.
— Tem uma questão de melhora da diagnóstico. Há 20 anos, acreditávamos que 20% dos diabéticos tipo 2 eram magros, mas estava errado.
Hoje sabemos que trata-se do tipo Lada (diabetes autoimune latente do adulto), uma forma tardia da diabetes tipo 1.
Quanto mais tarde este tipo autoimune aparece, menos agressiva a destruição do pâncreas.
Por isso era difícil enquadrá-lo no tipo 1, uma forma mais grave da doença — explica Leitão.
Este tipo também tem aumentado, mas os motivos ainda são desconhecidos, assim como as causas da doença:
— Hoje vemos que o tipo 1 também tem aparecido com mais frequência, mas aí temos apenas suposições para isto, nada está comprovado.
Há estudos relacionando questões alimentares, como transgênicos, adoçantes, além de uso de micro-ondas e até celular.
Fonte: o Globo Online
Autor: Flávia Milhorance