Controle da epidemia de Aids exige atenção constante

 O pioneirismo do Brasil na luta contra a Aids a partir do final do século passado, com ações como a quebra de patentes de drogas antirretrovirais e a distribuição em larga escala de coquetéis de medicamentos, rendeu ao país bons resultados no controle da epidemia.

Ao longo de alguns anos, inverteram-se curvas de infecção, os indicadores de óbitos ficaram dentr o de faixas que evidenciaram o acerto das medidas de prevenção e redução de danos etc.

Mas as taxas informadas pelo mais recente boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, distribuído há alguns dias, indicam que ainda são grandes os problemas relacionados à doença.

Pior: os números mostram que a Aids voltou a avançar entre a população jovem, principalmente os homossexuais.

Entre 2005 e 2012, o número de casos entre homens de 15 a 24 anos subiu 81%.

Considerando todas as faixas de idade, a infecção masculina cresceu de 22,7 em cada grupo de 100 mil habitantes, em 2005, para 32/100 mil em 2012.
É muito.

Se não de um modo geral, mas ao menos nesses estratos o aumento do número de casos mostra que o país pode estar entrando na contramão da tendência mundial de queda nas taxas de notificação da Aids.

Recente relatório do Programa de Aids das Nações Unidas (Unaids) revela que em 2012 o número de óbitos decorrentes da Aids, em todo o mundo, chegou a 1,6 milhão — ainda assustador, mas abaixo dos 2,3 milhões de 2006.

No caso do Brasil, há explicações para tais números.

Uma delas, por exemplo, é o natural relaxamento com procedimentos de prevenção da Aids, principalmente nas relações sexuais. As pessoas descuidam da guarda em razão dos avanços obtidos no controle da epidemia.

A este propósito, em entrevista ao GLOBO no início de novembro, o número dois d o Unaids, o brasileiro Luiz Loures, sugeriu que sejam repensadas e renovadas as estratégias de combate à doença:

“É como se a epidemia se adaptasse aos progressos que fizemos; então, temos de inovar.

” É iniciativa positiva a ampliação do acesso a medicamentos, com a distribuição de antirretrovirais a todos os portadores de HIV, independentemente do estágio de desenvolvimento da doença.

O programa, anunciado pelo governo federal domingo passado, que inclui a intensificação da realizaÍ ão de testes de infecção e o início de estudos para a descoberta de uma vacina, reafirma a posição de vanguarda do Brasil na luta contra a epidemia, ao lado de países onde o modelo é bem-sucedido — Bélgica e EUA, por exemplo.

Mas há outros passos. Entre eles, incrementar campanhas de esclarecimento à população.

Estas deveriam ser perenes.

O combate à doença deve ser permanente e nele integrar os organismos regionais. Apesar dos avanços, o país tem de manter a guarda fechada, pois o controle da epidemia não pode ser dado como resolvido.

Talvez nunca venha a ser possível relaxar. 

Fonte: o Globo