Quase vegetarianos

 Eles não querem riscar a carne por completo do cardápio, mas, de vez em quando, evitam a proteína de origem animal, de forma consciente, preocupados com a saúde, com o meio ambiente ou com o abate de animais. São os quase vegetarianos.

O apoio ao “vegetarianismo de meio período“ tem crescido. A campanha que mais angaria simpatizantes é a “segunda-feira sem carne“, projeto internacional que tem Paul McCartney como um de seus principais divulgadores.

Por aqui, a “segunda sem carne“ tem até projetos de lei. Um projeto do deputado estadual Feliciano Filho (PEN-SP) quer instituir a “segunda sem carne“ em estabelecimentos ligados aos órgãos públicos de São Paulo, exceto hospitais. Feliciano é autor de outras propostas relacionadas a direitos dos animais.

No âmbito federal, o deputado Ricardo Izar (PSD-SP) protocolou um projeto de lei no final de 2012, propondo a “segunda sem carne“ em estabelecimentos federais. O projeto ainda não foi votado.

Restaurantes também fazem parceria com o movimento. Em São Paulo, o Tollocos (mexicano), o Kebabel (árabe) e a hamburgueria Prime Dog, para citar alguns, não excluem a carne do cardápio às segundas, mas dão destaque às opções vegetarianas no menu.

“Há restaurantes que dão desconto nesses dias e o número de clientes às vezes triplica. Dá para ver um aumento nesse tipo de prática. Já faz diferença para a demanda de carne e às vezes é até um empurrãozinho para a pessoa virar vegetariana depois“, afirma Guilherme Carvalho, secretário-executivo da Sociedade Vegetariana Brasileira.

Outros parceiros da campanha são a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente de São Paulo e a Faculdade de Saúde Pública da USP.

Uma das bandeiras levantadas pelo movimento diz respeito à redução da emissão de gases do efeito estufa pelo produto digestivo do gado (gases e erupções) e do desmatamento, também produto da expansão da pecuária e do cultivo de alimentos destinados à ração animal.

O publicitário Dov Zylberman, 40, eliminou boa parte da carne de seu cardápio pensando na proteção ao meio ambiente. “Reduzi drasticamente o consumo e retirei também os laticínios“, explica. “Mas também não ligo se tem um bacon no feijão, não vou inspecionar a cozinha“, conta.

Já a professora de pilates Mariana Coelho, 30, está entre os adeptos da “segunda sem carne“. Apesar de sempre adotar dieta saudável e balanceada, ela decidiu aderir à campanha por proteção aos animais. “Achava que seria quase impossível tirar a carne do cardápio, mas vi que assim é tranquilo“, diz.
Segundo relatório da ONU divulgado em 2010, o problema da fome mundial passa também pela diminuição do consumo de carne. Ainda segundo a organização, o gado é responsável por 18% das emissões de gases causadores do efeito estufa.

FALTA CONSENSO

Enquanto a motivação ambiental apresentada por vegetarianos é respaldada pela ONU, os benefícios à nutrição do vegetarianismo temporário ou mesmo estrito não são consensuais.

“Não é preciso eliminar a carne para ser saudável. O que é necessário é um maior conhecimento sobre os nutrientes para uma dieta balanceada“, diz Silvia Cozzolino, nutricionista e presidente do Conselho Regional de Nutricionistas da região 3 (São Paulo e Mato Grosso do Sul).

Outro ponto é que embora muitas pesquisas associem o vegetarianismo a um maior controle de doenças cardiovasculares, é difícil saber se a prática é a responsável pelos benefícios.

“Não temos um marcador para definir se o consumo da proteína vegetal sozinha é a causa ou se é o controle do peso muitas vezes observado entre vegetarianos“, diz Carolina Pimentel, pesquisadora da Faculdade de Saúde Pública da USP.

Algumas pesquisas tentaram mensurar se o vegetarianismo, de fato, seria mais saudável. Um desses trabalhos é um estudo publicado no “Journal of Diabetes Association“ que acompanhou 99 diabéticos tipo 2 durante 22 semanas. Desse grupo, 50 seguiram a dieta “normal“, recomendada pela Associação Americana de Diabetes, e 49 seguiram a dieta vegetariana.

Apesar de ambos os grupos apresentarem resultados positivos, os que seguiram a dieta vegetariana tiveram redução de 21,2% no LDL, o “mau colesterol“, contra 10,7% no grupo controle.

Entretanto, a deficiência de vitamina B12 entre vegetarianos ainda é uma preocupação entre nutricionistas. Os vegetarianos rebatem. “A deficiência nutricional em vegetarianos é um mito“, diz Eric Slywitch, nutrólogo e consultor da Sociedade Vegetariana Brasileira.

Fonte: Folha de S. Paulo