8 de março – A Farmácia é delas!

 

Hoje maioria absoluta, farmacêuticas já foram obrigadas a apresentar carta de autorização do marido para ter inscrição no Conselho

 A Farmácia está entre os setores do mercado de trabalho brasileiro nos quais as mulheres foram pioneiras. Minoria no passado, elas dominam a área nos dias de hoje, apesar de ainda estarem em desvantagem em salário e condições de trabalho. Mesmo a conquista do setor só foi possível há poucas décadas. Recordar a incrível história das farmacêuticas pioneiras neste 8 de Março, Dia Internacional da Mulher, permite reflexões importante sobre as conquistas femininas na sociedade brasileira.

Registros históricos mostram que as mulheres procuravam o curso de Farmácia já no século 19, como Maria de Vasconcellos, uma das primeiras estudantes do curso no Brasil, que se formou em 1888 pela Universidade Federal de Ouro Preto. De lá para cá, elas foram dominando os bancos das faculdades até conq uista rem maioria entre os inscritos nos Conselhos Regionais de Farmácia.

O registro do CRF-SP aponta que hoje elas formam um contingente de 40 mil profissionais ativas – 72% do total de 55 mil farmacêuticos paulistas. Porém o caminho para chegar à maioria foi longo. Na década de 70, apesar de elas já ocuparem boa parte dos cursos universitários, havia apenas 2.572 farmacêuticas inscritas no Conselho paulista. Esse grupo foi crescendo aos poucos, chegando a 5.702 na década de 1980, 14.282 na década de 1990 e 27.559 na década dos 2000.

Há 40 anos, a profissão era predominantemente exercida por homens. Uma pesquisa realizada pelo Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE), em 1973, apontou que entre 130 empresas analisadas, 49% não tinham nenhuma mulher exercendo a atividade farmacêutica, 35% tinham apenas uma mulher na função e quatro empresas revelaram que não admitiam mulheres.

No entanto, nas faculdades, o número de mulheres já se equiparava à quantidade de alunos masculinos, o que apontava para uma mudança daquele cenário. “Tínhamos apenas três faculdades, a USP de São Paulo, a de Ribeirão Preto e a Unesp de Araraquara. O número de mulheres que ingressavam na universidade já atingia a metade dos alunos, mas quando chegavam ao 2º, 3º ano, desistiam para se casar , afirmou, à época, o dr. Márcio Antônio da Fonseca e Silva, presidente do CRF-8 no período de 1974 a 1976.

De certa forma, foi o Conselho que primeiro batalhou pela presença feminina na profissão. Durante o seu mandato, dr. Márcio incentivou a mudança de postura das profissionais e das características do mercado de trabalho. Promoveu palestras, cursos de aperfeiçoamento, incentivou o debate nas faculdades, centros acadêmicos, órgãos públicos e nos meios de comunicação, além de estimular as farmacêuticas a participarem nas entidades da classe farmacêutica e do Conselho.

Exemplo evidente da submissão que a mulher enfrentava para assumir sua vida profissional pode ser observado na cópia do documento (ao lado). Nele, a mulher deveria ter a aprovação por escrito do seu marido, caso fosse casada, ou dos pais, se fosse solteira, para requerer inscrição no Conselho Regional de Farmácia.


A vice-coordenadora e primeiro membro mulher a ingressar o Comitê Sênior do CRF-SP, dra. Salette Maria Krowczuk de Faria, de 70 anos, se formou em 1967 na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em uma turma formada, em sua maioria, por homens.

Após quase 50 anos de trabalho, dra. Salette analisa o poder das mulheres na profissão. “Hoje, vejo muito mais mulheres tomando gosto pela área da Farmácia e assumindo papéis cada vez mais importantes dentro da profissão.

Acho essa evolução muito boa porque a mulher tem em sua natureza ser mais detalhista, paciente e cuidadosa e soma muito bem para a profissão junto com os homens e suas qualidades essenciais”, destacou.

PRECONCEITO X EXCELÊNCIA
Entre os diplomados do curso de Farmácia da antiga Faculdade de Farmácia e Odontologia da USP, no ano de 1949, o nome da dra. Angelina Dirce Zanchetta Briso é o primeiro da lista. Naquela época, o ingresso da mulher no mercado de trabalho era incipiente e ainda visto como um tabu.

Mas para a então jovem formanda de 24 anos, enfrentar as barreiras do preconceito era essen cial se quisesse exercer a profissão escolhida. Ao perseguir seu ideal, tornou-se, no início dos anos 50, uma das profissionais que participaram da fase de modernização da farmácia hospitalar do Hospital das Clínicas (HC) do Estado de São Paulo, atualmente a maior da América Latina e considerada modelo de integração e excelência na assistência farmacêutica.

A exemplo de muitas mulheres dos dias atuais, dra. Angelina viveu por décadas a dupla jornada realizada em casa e no trabalho. Foi assim até 1979, quando se aposentou como farmacêutica-chefe do setor de entorpecentes.

Enfrentei dificuldades nessa longa jornada, mas valeu muito a pena. Se outra vida eu tiver, quero ser farmacêutica no HC novamente.”

PESQUISADORA
Formada há 55 anos, a Profa. Dra. Maria José Roncada fez parte da primeira turma de Farmácia da Faculdade de Farmácia e Odontologia da USP, após a reformulação do curso, que passou a ter quatro anos de duração. Foi professora titular e pesquisadora da Faculdade de Saúde Pública da universidade por mais de 30 anos. Ela destaca que, na época, apenas três homens faziam o curso de Farmácia no período diurno. “A classe toda era de mulheres e não sentimos nenhum preconceito, muito pelo contrário, a maior parte das colegas conseguiu bons empregos no Instituto Adolfo Lutz, universidades e Hospital das Clínicas.”

PRIMEIRA CONSELHEIRA
Dra. Leda Nascimbeni foi conselheira na primeira gestão do CRF-8 em 1961. Portadora do registro profissional nº 6, atuou por mais de 50 anos na profissão. Atualmente, com 87 anos de idade, lembra com alegria da sua atuação e dos tempo em que ajudou a construir o Conselho. “Foi uma época muito bonita e gratificante. Não foi fácil começar, mas vejo que valeu a pena. Lembro com muito carinho dos colegas que participaram do conselho naquela época”, disse.

 Assessoria de Comunicação CRF-SP