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A volta do vírus mais letal
O surto do misterioso e letal vírus Ebola que já matou 78 pessoas na Guiné é “sem precedentes”, segundo um especialista da ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF) que trabalha na região.
De acordo com o profissional, o surgimento de focos em diferentes locais do país torna o controle da disseminação muito complicado.
Na última sexta-feira, o vírus chegou à capital, Conacry, uma cidade com dois milhões de habitantes.
É a primeira vez, desde que o vírus foi identificado, em 1976, que o Ebola chega a uma cidade desse porte.
O Ebola provoca uma grave febre hemorrágica que mata em poucos dias, às vezes em algumas horas. Trata-se do agente infeccioso mais letal já enfrentado pelo homem.
Sua letalidade pode chegar assustadores 90%.
No caso desta epidemia, a mortalidade está na casa dos 60% — um percentual, ainda assim, extremamente alto.
— Estamos enfrentando uma epidemia de magnitude nunca vista antes em termos de distribuição dos casos — afirmou o médico Mariano Lugli, coordenador do MSF na Guiné, em entrevista à BBC.
— Do ponto de vista geográfico, essa disseminação é preocupante porque complica demais a tarefa de controlar a epidemia.
PEDIDO PARA NÃO FAZER SEXO Equipes de MSF e da própria Organização Mundial de Saúde (OMS) aumentaram seus efetivos na região, na tentativa de deter a doença.
O surto começou numa região remota do sul do país, Nzerokore, mas as autoridades levaram seis semanas para identificar a doença, que acabou chegando à capital e à vizinha Libéria.
O cantor senegalês Youssou Ndour cancelou um show marcado para sábado, em Conakry. Embora já estivesse no país, ele contou para a BBC que desistiu de se apresentar porque “não era uma boa ideia reunir milhares de pessoas em um local fechado”.
A maioria da população está se mantendo isolada, em casa, com medo da doença.
Números divulgados ontem pelo Ministério da Saúde da Guiné confirmaram 78 mortes em 122 casos registrados como “suspeita de Ebola” desde janeiro — uma taxa de letalidade de 63%.
Deste total, 22 já foram confirmados como Ebola em testes de laboratório.
A Libéria registrou sete casos, incluindo quatro mortes, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).
Os primeiros confirmados foram de duas irmãs, uma das quais tinha voltado da Guiné.
O ministro da Saúde da Libéria pediu às pessoas que parem de fazer sexo, de se beijar e mesmo de apertar as mãos, uma vez que o vírus é transmitido por fluidos corporais.
As pessoas vêm sendo alertadas também a não realizarem ritos tradicionais de sepultamento — que incluem a lavagem do corpo do morto — sob risco de contraírem a doença e disseminarem o vírus.
Os sintomas incluem febre alta, fraqueza, dor de cabeça, vômitos, sangramento e problemas renais graves.
Serra Leoa também registrou cinco casos suspeitos, mas nenhum deles foi ainda confirmado.
Por precaução, o Senegal, outro país vizinho da Guiné, fechou sua fronteira terrestre.
A OMS, no entanto, ainda não emitiu alerta de viagem.
Embora o vírus venha aparecendo em surtos ocasionais desde que foi isolado pela primeira vez, em 1976, na República Democrática do Congo, ele ainda é considerado bastante misterioso.
As origens da doença, por exemplo, permanecem desconhecidas.
Tampouco há uma terapia específica para combatêlo. E os motivos que levam à deflagração dos surtos ainda são pouco conhecidos.
Novas linhagens surgiram recentemente.
A última grande epidemia de Ebola aconteceu em 2007-2008 na República Democrática do Congo.
À época, 187 das 264 vítimas morreram, uma taxa de mortalidade superior a 70%.
VÍRUS É CONSIDERADO ARMA BIOLÓGICA
Na mesma ocasião também houve uma epidemia separada no distrito de Bundibugyo, em Uganda, em que foi identificado o novo subtipo que leva o nome da localidade.
Lá, 42 dos 131 doentes morreram.
O Centro de Controle de Doença (CDC) dos EUA mantém um laboratório e um grupo de cientistas em Uganda para estudar o Ebola, além de outros vírus letais e febres hemorrágicas que volta e meia surgem naquela região da África.
O Ebola foi recentemente listado pelo governo americano como uma arma biológica em potencial e uma ameaça.
Fonte: O Globo