Inteligência artificial ”bate” médicos no diagnóstico de câncer de pele

O uso da inteligência artificial no auxílio a diagnósticos com base em exames de imagens é uma realidade cada vez mais próxima da prática clínica, na qual devem melhorar a detecção precoce de doenças como o câncer de pele, pulmões e seios. E não é por menos, já que com o avanço da tecnologia estes sistemas estão demonstrando um desempenho comparáv el, ou até melhor, que médicos com anos de experiência, como evidencia estudo publicado nesta segunda-feira no periódico científico “Annals of Oncology”. Nele, uma rede neural “treinada” por pesquisadores liderados por Holger Haenssle, da Universidade de Heidelberg, Alemanha, com milhares de imagens de diferentes tipos de lesões na pele “bateu” um grupo de dermatologistas tanto na identificação de melanomas, a forma mais letal de câncer de pele, quanto na diferenciação das que não eram cancerosas.  De um tipo conhecido como rede neural convolucional (CNN, na sigla em inglês), a inteligência artificial passou por um processo chamado “aprendizado de máquina profundo” no qual foi “apresentado” a mais de 100 mil imagens de exames de dermoscopia de melanomas e man chas benignas na pele, desenvolvendo então a capacidade de diferenciá-los. Depois, com ajuda de dois experientes dermatologistas, os cientistas montaram um conjunto de cem imagens de lesões especialmente difíceis de serem classificadas para avaliar a capacidade de diagnóstico do sistema, convidando dermatologistas de todo mundo a realizarem o mesmo teste.  Ao todo, 58 médicos de 17 países responderam à convocação dos pesquisadores. Destes, 17 (29%) se consideraram “iniciantes”, com menos de dois anos de experiência neste tipo de diagnóstico, 11 ( 19%) se disseram “habilidosos”, com entre dois e cinco anos de experiência, e mais da metade, 30 (52%) afirmaram ser “especialistas”, com mais de cinco anos de experiência. Com base apenas nas imagens, na média estes dermatologistas obtivera m uma sensibilidade, isto é, o diagnóstico correto dos casos de melanoma, com menor taxa de falsos negativos, de 86,6%, e uma especificidade, ou seja, a indicação acertada de pintas benignas, com minimização dos falsos positivos, de 71,3%.  Já a inteligência artificial atingiu uma sensibilidade de 95% com especificidade de 82,5% no mesmo teste. Números que permaneceram superiores ao desempenho dos médicos mesmo depois que eles receberam informações clínicas dos pacientes, como idade, sexo e local da mancha no corpo, o que elevou su a sensibilidade para 88,9% e especificidade para 75,7%.  – O uso da inteligência artificial é uma tendência irreversível que vamos ver cada vez mais na medicina, principalmente na radiologia e na dermatologia, em que os computadores t~em uma capacidade enorme de fazer avaliações a partir do reconhecimento de padrões em exames de imagem – diz Cristiano Guedes Duque, oncologista do Grupo Oncoclínicas no Rio de Janeiro. – Não é que as máquinas vão substituir os médicos, mas elas vão acelerar, facilitar e melhorar nosso trabalha, e nós médicos vamos ter que aprender a conviver com isso.  Opinião similar tem Gustavo Meirelles, gestor médico de Estratégia e Inovação do Grupo Fleury:  – A inteligência artif icial é uma ferramenta muito poderosa para auxiliar os médicos tanto no diagnóstico quanto nas decisões de tratamento e acompanhamento dos pacientes e por isso, das inovações em saúde, e das que ganha cada vez mais espaço – conta. – Um deles é neste reconhecimento de imagens a partir de bancos de dados, o que faz com que sirva para ajudar no diagnóstico precoce na dermatologia. Mas é um método para auxiliar, e não para substituir os médicos.

Fonte: O Globo