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Frequência cardíaca no exercício é indicativo de risco de morte
RIO - A frequência cardíaca (FC) é um dos indicativos mais estudados da fisiologia cardiovascular. Já se sabia, por exemplo, que aqueles com pulso baixo em repouso, com pulso alto no exercício e que recuperavam a FC com facilidade eram mais saudáveis. No entanto, nenhum estudo havia analisado o impacto dos índices em conjunto na saúde humana. Publicada na revista “European Journal of P reventive Cardiology”, uma pesquisa brasileira uniu as três variáveis e encontrou uma ligação importante entre o resultado dos testes e a taxa de mortalidade: pessoas com baixa recuperação cardíaca têm 3 vezes mais chance de morrer prematuramente.
O estudo foi realizado pela brasileira Clinimex - Clínica de Medicina do Exercício -, com a colaboração de pesquisadores da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos. Para encontrar a relação, os cientistas acompanharam um grupo de 1.476 pessoas com idade entre 41 e 79 anos e que não utilizavam nenhum medicamento que pudesse alterar o pulso.
Dois índices serviram como base para a pesquisa: FC de reserva, diferença entre o pulso máximo, durante o exercício, e o mínimo, em repouso; e FC de recuperação, diferença entre a frequência máxima em exercício e a frequência um minuto após o término da atividade. Eles chamaram a relação entre os dois índices de Gradiente de Frequência Cardíaca no Exercício (GFCE).
- Os resultados de cada uma dessas duas variáveis (FC reserva e FC re cuperação) foram organizados em ordem numérica crescente e estratificados em quantis, de forma que os 20% menores correspondiam ao quintil 1 (Q1), com o Q5 englobavam os resultados 20% melhores - explica Claudio Gil Soares de Araújo, diretor médico da Clinimex e principal autor da pesquisa. - O escore do GFCE foi então calculado como a soma dos números dos quintis para as duas variáveis, entre GFCE 2 (Q1 e Q1) e GFCE 10 (Q5 e Q5).
A FC de reserva foi baseada nos seguintes padrões: Q1 entre 24 e 80 batimentos por minuto (bpm); Q2 entre 81 e 94; Q3 entre 95 e 104; Q4 entre 105 e 133; e Q5 entre 114 e 155. Já a FC de recuperação foi dividida em: Q1 entre 0 e 27 bpm; Q2 entre 28 e 33; Q3 entre 34 e 39; Q4 entre 40 e 45; e Q5 entre 46 e 87.
Após um acompanhamento médico de cerca de sete anos, 44 pessoas morreram por decorrência de problemas de saúde. A causa de morte não foi levada em consideração. Os pesquisadore s então analisaram a relação da taxa de mortalidade com os resul tados da FC. No GFCE 10, grupo com maior desempenho, o índice de mortalidade foi de 1,2%, e subiu para 13,2% no GFCE 2, de pior resultado cardíaco.
- Em uma análise ajustada por outras variáveis, os indivíduos com GFCE 2 tiveram uma taxa de mortalidade por todas as causas de 3,53 vezes maior do que os outros grupos - ressalta Araújo.
Além de apontar um método mais fácil e rápido para a análise do risco de morte, o GFCE também ajuda a desmitificar as tabelas de FC que são utilizadas como base em academias.
- As tabelinhas de frequência máxima em academias, que relacionam idade e pulso, não devem ser usadas como base - diz Araújo. - Não é um sinal de problema se o pulso passa do aceitável na tabela. Na verdade o que deve ser medido é a diferença entre o pico, o repouso e a frequência de recuperação. Você pode passar do “limite aceitável” e estar mais saudável do que pensa.
No entanto, a conta não deve ser utilizada como fator determinante de morte pr ematura, diz Araújo:
- A pessoa não está condenada a morrer. Ela tem chance maior de 2 a 3 vezes, é um indicador de risco. Mas pode ser que ela viva mais do que os que tiveram melhor resultado cardíaco se procurar a orientação de um médico e se cuidar - explica. - O grande ganho é que esse é um indicativo simples e acessível, basta apenas o uso do frequencímetro, e indica muito sobre o futuro da pessoa.
Fonte: Portal O Globo