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Doenças neurológicas crescem com envelhecimento da população
Estatísticas sobre desenvolvimento populacional têm revelado o aumento de pessoas na terceira idade, como a última divulgação do IBGE apontando que 1 em cada 4 brasileiros terá mais de 65 anos em 2060. Considerando a maior prevalência de doenças nesta faixa etária, o doutor em neurocirurgia pela Unifesp Claudio Corrêa aponta a necessidade de atenção especial para medidas preventivas e tratativas para as doenças neurológicas.
As doenças neurológicas afetam primária ou secundariamente o sistema nervoso (central, autônomo ou neurovegetativo e periférico), podendo ter origem por doença que se inicia no próprio sistema nervoso ou em doenças em outros locais, mas que acabam afetando o sistema nervoso.
“Elas podem se dividir em vários tipos, diante de estruturas diferentes, como cérebro e membros, onde podem ser citadas a doença de Parkinson, Alzheimer, esclerose múltipla, esclerose lateral amiotrófica, neuralgia do trigêmeo, fibromialgia – dentro do quadro de lesões ou disfunções primárias do sistema nervoso. Já o diabetes, as lesões decorrentes de procedimentos operatórios, quimioterapia e radioterapia, são exemplos de lesões secundárias do sistema nervoso”, explica o neurocirurgião.
As doenças neurológicas também podem ser classificadas como doenças funcionais quando não for possível determinar a causa anatômica, embora apresentem um quadro característico. São exemplos: fibromialgia, cefaleia em salvas e enxaqueca crônica.
Embora muitas das doenças neurológicas de origem primária não apresentem uma causa bem definida, é possível associar algumas delas com quadros de degeneração comuns na terceira idade, e de novo podem ser citados como exemplo a doença de Alzheimer – em que por alguma razão ainda não definida, placas de uma proteína chamada beta amiloide extracelular geram a morte dos neurônios, causando a demência. “Na doença de Parkinson ocorre a diminuição da produção de um neurotransmissor chamado dopamina, desencadeando os sintomas motores da doença. Muitas epilepsias também podem ser por distúrbios funcionais ou por lesões”, contextualiza o doutor Cláudio.
Na neuralgia do trigêmeo – doença que provoca dores intensas na região da face consideradas como as piores em escala mundial, 95% dos casos está associada a um distúrbio funcional, sendo os 5% restantes caraterizados como causas orgânicas, como consequência de metástases, tumores (meningeomas, neurinomas) ou má formação arteriovenosa.
Outro exemplo clássico de dor de causa orgânica é a da neuralgia pós-herpética, onde o vírus da varicela (herpes-zoster) lesa neurônios, levando a 10% de casos de ocorrência de neuralgia pós-herpética, um problema crônico com alto grau de sofrimento do paciente.
Embora cada doença exija uma proposta diferente de atuação, em geral para as neuropatias são tratadas essencialmente com remédios antidepressivos e anticonvulsivantes que atuam no sistema supressor da dor. Outras medicações adjuvantes podem auxiliar nesta condição.
Na doença de Parkinson, a levodopa é a medicação mais importante, mas outras drogas que compensam a falta da dopamina vêm sendo empregadas. Na doença de Alzheimer inibidores das colinesterases – enzimas existentes principalmente nas hemácias, sinapses (terminações nervosas) e músculos são as licenciadas no Brasil pela Anvisa. Nas epilepsias, os anticonvulsivantes são a primeira linha.
Complementando as medicações, é importante unir ao tratamento a medicina física de reabilitação, a fonoaudiologia, terapia mental, entre outas.
Quando todos os recursos da medicina tradicional se esgotam, ainda podem ser indicados procedimentos operatórios tanto para a contenção de crises de dor como de controle dos movimentos involuntários (tremor essencial, doença de Parkinson, distonias), doenças psiquiátricas (depressão e Toc). Na maioria das vezes são procedimentos com bom resultado, baixo índice de complicações e importante melhora na qualidade de vida, baseados em técnicas ablativas e neuroaumentativas.
Nas primeiras são realizadas intervenções que lesam parte do sistema nervoso e no segundo apenas são realizadas manobras para a liberação de drogas analgésicas e procedimentos que estimulam áreas específicas do sistema nervoso, sem alteração da estrutura cerebral.
Embora a cura não seja possível para a grande maioria das doenças citadas, para todas existe tratamento para a sua contenção e a manutenção da funcionalidade e qualidade de vida, sempre contemplando o atendimento multiprofissional do paciente.
“Quanto às medidas preventivas, ainda que não se possa parar o relógio biológico à medida que envelhecemos, é fato que a prática de atividades físicas e sociais regulares e uma alimentação balanceada ao logo de toda a vida, evitando excessos de bebidas alcoólicas e tabaco, ajudam a manter o sistema imunológico e as funções neurológicas mais resistentes aos processos degenerativos”, finaliza o médico.
Fonte: Folha Blumenauense