Isenção de tributos sobre medicamentos não afetaria o orçamento da União

O deputado federal José Antônio Reguffe (PDT-DF) encomendou um levantamento à Receita Federal sobre o total de recursos arrecadados pela União com medicamentos. Só em 2010, mais de R$ 3,3 bilhões foram recolhidos em taxas como o IRPJ (Imposto sobre a Renda – Pessoas Físicas), Cofins (Contribuição para a Seguridade Social), Imposto sobre a Importação e CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido).
Reguffe afirma que o corte dos impostos faria pouca diferença no Orçamento da União. O valor vindo dos medicamentos representa 0,16% do total arrecadado.
“O que deve ser tributado são os produtos supérfluos, não os que mexem com a saúde, com a vida das pessoas”.

Os R$ 3,3 bilhões não levam em conta impostos estaduais, como o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços). Fernando Steinbruch, diretor do IBPT (Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário), destaca que o ICMS corresponde à metade do total de impostos que incidem sobre os medicamentos.

O levantamento deu origem a dois projetos de lei (PL 1097 e PL 108) de autoria do deputado Reguffe, cujo intuito é acabar com os impostos sobre todos os medicamentos – tanto os produzidos aqui, quanto os importados. O objetivo, segundo ele, é ampliar o acesso da população a esses itens de primeira necessidade. Ambos tramitam em conjunto na Câmara.

De acordo com a Alanac (Associação dos Laboratórios Farmacêuticos Nacionais), em média, 35,7% do preço que o consumidor paga na farmácia são impostos. Henrique Tada, diretor técnico executivo da entidade, diz que em muitos países a tributação varia entre zero e 5%.

O governo já demonstrou interesse no assunto. A presidenta Dilma Rousseff prometeu, durante a campanha eleitoral, baixar os impostos dos medicamentos. Neste ano, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, também mostrou apoio à causa. Ele disse que a ideia não está contemplada na proposta de reforma tributária elaborada pelo governo federal, mas ressaltou que o tema está sendo discutido pelo ministério com os setores de saúde do país.

MAIOR OU MENOR CONSUMO

Mesmo com preços altos, o Brasil é um dos países que mais consomem remédios. O Relatório Mundial sobre Drogas da ONU (Organização das Nações Unidas), divulgado mês passado, aponta um alto consumo, principalmente de analgésicos, que podem causar dependência.

O clínico médico Claudio Miguel Ruffino, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), diz que o preço não tem relação direta com o consumo abusivo e que, de fato, os valores são muito altos. “No Brasil, perdemos muitos pacientes por causa dos preços. Muitos nem iniciam os tratamentos ou os abandonam no meio”.

O médico afirma que o Brasil já avançou em alguns sentidos, como melhor distribuição de remédios nas farmácias populares, mas os indicados para tratamentos mais complexos, como osteoporose, ou os que não possuem genéricos continuam sendo pouco acessíveis para a maioria da população.

Fonte: Febrafar