Médicos americanos discutem uso de estatinas

 Usadas no controle do colesterol, as estatinas transformaram o tratamento das doenças cardíacas ao redor do mundo. Mas enquanto não há dúvidas sobre o uso desta droga em pacientes com histórico de ataques cardíacos e derrames, a decisão não é tão simples para os milhões de indivíduos com colesterol alto sem doença cardíaca.

Um novo relatório de cardiologistas do Hospital de Johns Hopki ns e de outros centros oferece uma série de orientações a médicos. Publicado nesta segunda-feira no “Journal of the American College of Cardiology”, o documento traz uma revisão sobre o uso da estatina em estudos científicos e na prática clínica.

— Como as doenças cardiovasculares são a principal causa de morte do mundo, o relatório oferece dicas concretas a médicos sobre como conduzir esta discussão vital e reduzir a incerteza e a frustração de pacientes em tomar decisões complicadas — afirma Seth Martin, autor principal do documento e professor de cardiologia do Centro de Prevenção dos Doenças Cardíacas da Johns Hopkins Ciccarone.

Para se ter uma ideia, os pesquisadores citam o caso da aterosclerose, uma das doenças mais comuns na q ual placa s de gordura se acumulam gradualmente nos vasos sanguíneos, reduzindo sua capacidade de fornecer sangue rico em oxigênio ao músculo do coração e ao cérebro. A estatinas reduzem a quantidade de colesterol circulando no sangue e reduzem a formação de placas de gordura perigosas. Raramente, no entanto, as estatinas podem precipitar o aparecimento de outros problemas, como lesão muscular e diabetes.

As diretrizes da Associação Americana no Coração e da Faculdade Americana de Cardiologia orientam que no caso de colesterol alto sem doença manifestada, a decisão de iniciar o uso de estatinas deve levar em consideração a probabilidade de os pacientes sofrerem ataques do coração ou derrame na década seguinte, entre outras variáveis. Mas os autores do documento criticam o fato de que as diretrizes são muito amplas.

Confira algumas dicas para os médicos:

Não se fixe num número. O escore de risco não deve ser usado como um atalho para a tomada de decisões, mas apenas como o início da conversa. Principalmente porque descobertas recentes revelaram que cálculos usados para estimar o risco estão superestimados. Pacientes com números limites podem se beneficiar de testes adicionais, como escores de cálcio coronariano determinados pela tomografia.

Dar aos pacientes uma escolha e garantir que eles tenham a palavra final é louvável, mas pesquisas mostram que pacientes geralmente querem que seus médicos assumam a liderança na resolução de problemas.

Trabalhar sobre a tirania das consultas de 15 minutos pode limitar severamente a habilidade de ter uma conversa positiva. Mas esta conversa não precisa ocorrer apenas numa visita. “Levando-se em conta que um em cada três paciente morrerá de ataque cardíaco ou derrame, é fundamental que médicos deem tempo para uma conversa sobre estatinas, mesmo que isto represente espalhar a conversa em várias visitas”, diz Martin.

Estatinas e diabetes: o uso de estatinas já foi relacionado com o maior risco de desenvolver diabetes porque a medicação pode elevar o nível de glicose em indivíduos predispostos — um efeito que pode ser contrabalançado com exercícios e perda de peso. Pessoas com pré-diabetes deveriam ser tratadas com estatinas apenas se elas tiverem marcadores de elevado risco de doenças cardíacas.

Estatinas e memória: há pouca evidência de que estatinas prejudicam a memória.

 

Estatinas e músculos: danos severos aos músculos devido ao uso de estatinas são extremamente raros, mas dores são comuns, ainda que benignas. É preciso reavaliar a função muscular a cada três meses depois do início do uso das estatinas.

 Fonte: Portal O Globo