Biodiversidade brasileira contra leishmaniose

Anualmente, cerca de 2 milhões de pessoas contraem leishmaniose, doença causada por protozoários e transmitida por mosquitos, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). Apesar deste número, a leishmaniose faz parte das chamadas doenças negligenciadas, ou seja, aquelas que atingem principalmente populações pobres e que por isso não despertam o interesse das grandes indústrias farmacêuticas.

Porém, um importante aliado na luta contra a doença pode vir da flora brasileira. A Lychnoflora, empresas de pesquisa e desenvolvimento em produtos naturais e análises químicas instalada na incubadora Supera, situada no campus da universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto, está elaborando uma pomada para tratar ferimentos causados pela leishmaniose cutânea, forma da doença que provoca feridas graves e deformidades na pele e em cartilagens.

O produto tem como base a substância obtida de uma planta brasileira. “Conseguimos identificar uma planta em que 7% de sua massa é essa substância”, diz o farmacêutico José Norberto Callegari Lopes, professor aposentado da Universidade de São Paulo (USP) e diretor administrativo da Lychnoflora. Como o objetivo da empresa é patentear o produto, o pesquisador não revela detalhes sobre a planta.

Segundo Lopes, o desafio tecnológico não foi propriamente identificar a molécula que está sendo usada no medicamento, mas sim transformá-la em produto. “Essa molécula foi isolada há uns 20 anos, mas não a partir de plantas brasileiras. O problema é transformá-la em algo viável”, afirma. “Procuramos uma planta brasileira que produzisse essa substância em grande quantidade para viabilizar a produção do medicamento em larga escala e de modo ambientalmente correto”, acrescenta.

De acordo com Lopes, hoje o tratamento da leishmaniose, tanto em sua forma cutânea quanto visceral, é feita com substâncias que provocam efeitos colaterais como graves problemas renais, hepáticos e cardíacos. “A ideia inicial é que esta pomada ajude a diminuir a exposição do paciente a essas substâncias”, diz. De acordo com o pesquisador, aproximadamente 20 mil novos casos da forma cutânea da doença são registrados no Brasil a cada ano.

No momento, o produto está passando por testes pré-clínicos, ou seja, está sendo testado em animais. Uma das parceiras da empresa nesta etapa é a Fundação Oswaldo Cruz, do Rio de Janeiro. Se os resultados continuarem se mostrando satisfatórios, como tem ocorrido até o momento, o próximo passo será realizar testes em humanos.

Fonte: BRASIL ECONÔMICO