Brasil é pioneiro na prevenção de HIV com medicamentos

 RIO - A luta contra a Aids no Brasil ficou mais ampla. Além das campanhas de conscientização e da expansão da utilização dos antirretrovirais para todos os infectados, o Ministério da Saúde deu o primeiro passo para a prevenção via medicamentos. Em parceria com a Fundação Oswaldo Cru z (Fiocruz), o Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais irá realizar um estudo ainda inédito no mundo sobre a implementação da Profilaxia Pré-Exposição, a Prep. O s testes serão realizados em 500 pessoas, divididas entre Rio, São Paulo e Porto Alegre, e só aguardam a liberação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para começar.

- A estratégia da Prep, que utiliza medicamentos antirretrovirais em pessoas não infectadas, mas que possuem alto risco de contrair o vírus, já teve eficácia comprovada em testes em laboratório em outras partes do mundo e aqui no Brasil em pesquisa feita por nós - conta Valdiléa G. Veloso, pesquisadora do Instituto de Pesquisa Clinica Evando Chagas (Ipec), da Fiocruz. - Após os resultados, o laboratório fabricante do medicamento submeteu a extensão da sua utilização ao FDA (agência americana que regulamenta alimentos e medicamentos) e eles aprovaram em julho de 2012.

Segundo Valdiléa, os dados demonstraram que, quando os remédios foram utilizados sem interrupção, a eficiência da prevenção era de 90% após exposição ao vírus. Depois da aprovação da FDA, a Organização Mundial da Sa úde recomendou que os países avaliasse m a estratégia nos seus respectivos contextos sociais.

Foco no público prioritário

- Vamos avaliar agora como e quando implementá-la - afirma Fábio Mesquita, do Departamento de Aids. - Os outros testes haviam sido realizados em laboratório, com ambiente controlado e contato intenso com os voluntários. O que ninguém sabe ainda é como ela funcionará no cotidiano.

Inicialmente, o estudo estava previsto para 400 pessoas selecionadas entre Rio e São Paulo. Após a parceria com o Ministério da Saúde, que ajuda no financiamento dos R$ 1,5 milhão necessários para a pesquisa, o Departamento de Aids pediu a inclusão de Porto Alegre, a capital com maior incidência da doença no Brasil: 99,8 casos por 100 mil habitantes.

- O Brasil está passando agora por uma modificação no protocolo da política de testar e tratar - analisa Georgiana Braga, coordenadora do Programa de Aids das Nações Unidas (Unaids) no Brasil. - A estratégia é ousada, e irá investir em áreas e popul ações prioritárias. A prevalê ncia do HIV em homossexuais no Brasil é de 10%. É uma epidemia que consideramos generalizada, e por isso é preciso usar outras formas de combate.

O recrutamento dos participantes será feito em áreas de convívio de potenciais candidatos, que serão homossexuais e travestis. Após uma seleção que incluirá entrevistas, o grupo será acompanhado por um ano.

- Estamos desenvolvendo outras ferramentas que serão fundamentais para a implementação de políticas públicas no futuro, como uma plataforma de comunicação com o pesquisado - diz Valdiléa. - Através de mensagens de texto, vamos lembrar a pessoa de tomar e buscar o medicamento, além de conseguir coletar dados sobre seu comportamento sexual.

Segundo a pesquisadora, o comportamento de risco não acompanha uma pessoa por toda a vida.

- A exposição ao vírus varia de acordo com o momento de vida da pessoa. Se tem parceiro ou não, se o parceiro aceita o uso do contraceptivo, e por aí vai. A utilização de medicamen tos não é por toda a vida.

As campanhas de conscientização continuam. Essa semana o Departamento de Aids e a Unaids lançam a “Proteja o gol”, que irá até a Copa do Mundo com foco no público jovem.

Fonte: O Globo