Tendência é demais fusões e aquisições

 As farmácias independentes estão sendo encurraladas e perdendo espaço para as grandes redes. Apesar de representarem 17,6% em número de pontos, as farmácias e drogarias dos grandes grupos concentram 52% das vendas. A expectativa é de que, em alguns anos, essas empresas de porte aglutinem 65% dos pontos de venda. O faturamento como um todo, no entanto, continua crescendo e deve aumentar de 15% a 20% em 2013 sobre o ano anterior. Em
2012, as vendas somaram RS 49,6 bilhões, dos quais RS 26,6 bilhões das redes filiadas à Associação Brasileira de Redes de F armácias e Drogarias (Abrafarma). Neste grupo, a alta foi de 16,01% ante a 2011. Os genéricos, por sua vez, faturaram RS 11,1 bilhões no ano passado, alta de 26,8%.

O crescimento é impulsionado, sobretudo, pelo forte ritmo de consolidação no setor. Nos 12 meses até junho de 2013 foram inauguradas 349 novas lojas, a maioria inte-
grada às grandes redes. “O país tem hoje 68 mil farmácias comerciais e cerca de 12 mil delas pertencem a redes“, diz Sérgio Mena Barreto, presidente da Abrafarma. Apesar de representarem 17,6% em número de pontos, “elas concentram 52% das vendas“, afirma. “Os 48% restantes são divididos por cerca de 56 mil pontos de venda. Em algumas categorias, a concentração é maior: nos genéricos, por exemplo, cerca de 13 mil farmácias comercializam 75% dos produtos. E cerce 17 mil vendem 75% de tcxlos os medicamentos isentos de prescrição consumidos no país.“

A tendência é que as empresas de grande porte se fortaleçam mais. &q uot;Quando as redes crescem acima do mercado, nitidamente estào avançando sobre as farmácias independentes“, diz Barreto. “As grandes redes tem mantido um ritmo forte de crescimento, em razão da abertura de novos pontos de venda. As previsões apontam aumento de participação de redes para 65% do mercado, com o encolhimento de independentes para 35%.“

A consolidação no setor, que se acentua nos últimos anos, se explica por dois fatores, segundo a Abrafarma. O primeiro é o fato de o segmento exigir um intensivo investimento em estoques, exigindo muito capital de giro. O segundo é a baixa margem operacional. Em função da concorrência intrassetor, e também com o canal alimentar, que atua no segmento de higiene e beleza, o fator preço é crítico e impacta seriamente as margens“ diz Mena Barreto. “Assim, explora-se um modelo de grandes volumes com margens baixas. Grandes redes, quando bem administradas, geram um Ebitda em torno de 5% a 8%.“

Para Luis Mot ta, da área de fusões e aquisições da KPMG no Brasil, as farmácias e drogarias são um segmento em consolidação. “Essas empresas têm uma lógica de crescimento via aquisições, porque se servem de uma grande rede para ter maiores ganhos de escala.“ Em 2012, a Droga Raia e a Drogasil fundiram seus pontos comerciais e, juntas, compraram a drogaria Santa Marta; e a Brasil Pharma, do grupo BTG Pactuai e dona da bandeira Farmais, adquiriu a drogaria São Paulo e a rede Santana, da Bahia. Em 2013, a drogaria Onofre foi vendida para a rede americana TVS.

Embora as empresas não confirmem, a Brasil Pharma estaria negociando a compra de uma das três maiores distribuidoras de medicamentos do país: Profarma,
PanPharma e Santa Cruz. Se o negócio for concluído, não importa com qual das companhias, estará sendo criada no país a maior rede de varejo e distribuição de medicamentos.

A Drogaria Araujo, com sede em Belo Horizonte, tem 120 lojas e previsão de faturar RS 1,3 bilhão neste ano. É um dos grupos que têm o perfil para estar na mira desses compradores, mas que anunciou sua decisão de permanecer fora do circuito de aquisições e fusões. Modesto Carvalho Araujo Neto, presidente da rede, diz que não negocia com investidores, bancos ou outras redes sobre uma possível venda de seu negócio. No seu entender, em todas as transações há “sempre alguém que entra descapitalizado e precisando tomar uma atitude para não desaparecer. Eu tenho rentabilidade, estou capitalizado, estou bem. Vender para quê? Não quero ter, por exemplo, 400 lojas até 2015. Eu não conseguiria manter a qualidade do serviço nem a minha qualidade de vida“

Não significa que não queira crescer. Segundo Araujo, a intenção da rede, fundada pelo avô um século atrás, é chegar em 2015 com 150 lojas e faturamento de RS 1,6
bilhão. Sempre com recursos próprios. Mesmo para a construção de um novo centro de distribuição de 50 metros quadrados, ele está pensando duas vezes a ntes de recorrer a bancos.

No bolo dos negócios, os genéricos continuam ampliando a participação. Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Genéricos (Pró Genéricos), houve aumento de 23,5% na receita no primeiro semestre em relação a igual período de 2012. O segmento tem participação de 27,2% das vendas de medicamentos e a meta é atingir 30% de fatia no primeiro semestre de 2014.

Outra frente de vendas, que vem decepcionando os empresários do setor, é o programa do governo Aqui tem Farmácia Popular. Em 2012, o faturamento foi de RS 468 milhões, 49,17% a mais do que em 2011. No período anterior, comparando 2011 e 2010, o crescimento foi de 123,40%. A participação sobre as vendas de medicamentos ainda é baixa, da ordem de 2,47%. As farmácias atribuem o pequeno crescimento às dificuldades para inclusão de novas lojas no programa.

Revista Valor Setorial - Saúde