Pfizer volta a cortejar AstraZeneca, mas está difícil sair casamento

 Por Dana Cimilluca, Jonathan D. Rockoff e Hester Plumridge | The Wall Street Journal, de Londres


A Pfizer Inc. confirmou ontem que abordou novamente a AstraZeneca PLC sobre uma proposta de aquisição avaliada em quase US$ 100 bilhões, mas a farmacêutica britânica não quis entrar em negociações.

A gigante americana acrescentou que está estudando suas opções. O diretor-presidente da Pfizer, Ian Read, disse ontem, numa teleconferência, que uma combinação das duas empresas criaria a maior farmacêutica do mundo. A fusão também geraria sinergias de custo significativo e reforçaria o portfólio da Pfizer de medicamentos contra câncer, diabetes e doenças cardiovasculares e sua presença em mercados emergentes, segundo ele.

“É algo que a sociedade está pedindo à indústria farmacêutica: as pessoas querem produtos mais depressa, querem mais produtos e querem valor“, disse.

A Pfizer afirmou que primeiro procurou a AstraZeneca em janeiro acerca de uma possível fusão e que as duas empresas mantiveram negociações “de alto nível“, mas estas foram interrompidas em 14 de janeiro. A Pfizer afirmou que fez uma segunda investida no sábado.

A proposta anterior da Pfizer, feita para o conselho de administração da AstraZeneca em 5 de janeiro, incluía uma combinação de dinheiro e ações que daria à AstraZeneca um valor de mercado de cerca de 58,73 bilhões de libras, ou US$ 98,68 bilhões. Ontem, a ação da AstraZeneca subiu quase 15%, para 46,77 libras (US$ 78,63), na bolsa de Londres.< br>
Num comunicado divulgado quase três horas depois do anúncio da Pfizer, a AstraZeneca observou que a proposta inicial “subvaloriza substancialmente a AstraZeneca e suas perspectivas“.

A AstraZeneca afirmou que Read contatou o presidente de seu conselho, Leif Johansson, no sábado, e pediu que as duas empresas emitissem um comunicado conjunto dizendo que tinham iniciado as negociações. O conselho “considerou esse pedido e concluiu que, na ausência de uma proposta concreta e atraente, não era oportuno entrar em discussões com a Pfizer“, informou o comunicado.

A AstraZeneca também detalhou a proposta da Pfizer feita em janeiro, em que a oferta seria 70% em ações da Pfizer e 30% em dinheiro. A AstraZeneca afirmou que, em janeiro, seu conselho manifestou preocupações com a grande proporção de ações da Pfizer na oferta.

A Pfizer afirmou que, se o negócio for adiante, as duas empresas seriam combinadas sob uma nova holding constituída no Reino Unido, com gestores nos Es tados Unidos e no Reino Unido. Ela conservaria sua sede em Nova York e suas ações seriam negociadas na bolsa nova-iorquina.

Read disse que qualquer acordo seria consistente com a estratégia da Pfizer, embora suas iniciativas do executivo desde que assumiu o comando, em 2011, tenham tornado a empresa menor e mais focada. Read vendeu as divisões de nutrição e fabricação de comprimidos em grandes volumes da Pfizer e desmembrou a unidade de produtos veterinários, numa abertura de capital no ano passado.

“Embora tenhamos indicado, já há algum tempo, que nosso foco principal é nas transações “bolt-on“ [para reforçar uma unidade específica], sempre dissemos que \'nunca dizemos nunca\' para nada, inclusive para um negócio de grande porte“, disse Read, acrescentando que a Pfizer tem boa experiência em integrar grandes firmas e conservar talentos.

Pessoas a par do assunto disseram anteriormente que a Pfizer planeja continuar cortejando a AstraZeneca, de olho em uma fusão que cria ria uma gigante do setor farmacêutico, dando ainda mais vigor a um ano já com intensa atividade de fusões e aquisições, em especial na área da saúde.

O volume acumulado de acordos anunciados este ano em todo o mundo passou a marca de US$ 1 trilhão na semana passada. Isso faz de 2014 o mais rápido a cruzar este limite desde 2007, segundo a provedora de dados Dealogic.

Grandes farmacêuticas vêm usando fusões e aquisições para se fortalecer em seus mercados de interesse, enquanto abandonam as áreas em que não acreditam ter o porte necessário para ser a líder. Na semana passada, a Novartis AG anunciou mais de US$ 20 bilhões em negócios para expandir sua presença nas terapias para o câncer e sair dos setores de saúde animal e vacinas.

Enquanto isso, a suíça Meda AB afirmou ontem que recusou uma oferta de aquisição melhorada da concorrente Mylan Inc. E a Valeant Pharmaceutical Industries está tentando expandir ainda mais suas linhas de produtos oftalmológicos e der matológicos ao oferecer US$ 4 6 bilhões pela Allergan Inc.

O motor de propulsão para esses negócios, dizem executivos do setor, é uma combinação de pressões do mercado, os crescentes custos e complexidade de desenvolver novos remédios e a constante ameaça representada pelo vencimento das patentes.

As farmacêuticas estão concluindo que governos, às voltas com cortes de orçamento, e planos de saúde privados geralmente não querem pagar preços altos por medicamentos novos a não ser que esses remédios tragam uma melhoria significativa para o paciente. Esse aperto ocorre num momento em que as empresas precisam de dinheiro para substituir remédios antigos. Por outro lado, a ciência necessária para conceber medicamentos revolucionários está cada vez mais complexa e especializada.

O Lípitor, o remédio mais vendido da Pfizer, perdeu a proteção de patente nos EUA em 2011. A empresa enfrenta outras perdas como essa nos próximos anos.

“Nossa resposta a isso são melhorias internas de eficiência e consolidações que nos permitam cortar custos e mesclar o conhecimento“, disse Read.

Uma união entre a Pfizer e a AstraZeneca criaria um laboratório com medicamentos para tratar a maior parte das principais doenças modernas, incluindo diabetes, doenças cardíacas e artrite reumatoide. Ela iria combinar remédios direcionados da Pfizer, como Xalkori, que trata uma forma de câncer de pulmão, com uma droga promissora da AstraZeneca que visa atacar o câncer utilizando o sistema imunológico do corpo humano. O setor considera essas imunoterapias a próxima onda de tratamentos lucrativos contra o câncer.

Sem citar números, Read disse que a combinação ajudará a empresa a impulsionar o lucro por ação ajustado e diluído da Pfizer no primeiro ano completo.

A AstraZeneca está a se revelando um obstáculo para esse plano até agora. “O conselho se mantém confiante na atual execução da estratégia da AstraZeneca como uma empresa independente e que seu sucesso entregará um valor significativo para os aci onistas“, in formou a empresa.

 

Indústria farmacêutica no Brasil vira seu foco para a biotecnologia

Fonte: Site Cebes

 

Com apoio do governo, empresas querem fazer remédios avançados para doenças complexas

Novartis, porém, re duz o passo para reorganizar projeto em PE, cuja implantação está atrasada

Após anunciar uma bilionária refor mulação de seu portfólio global nesta semana, a farmacêutica suíça Novartis reduz o passo para reorganizar os planos de uma importante fábrica de biotecnologia em Pernambuco.

Enquanto isso, a indústria nacional dá os primeiros lances para, com o apoio do governo, desenvolver os biomedicamentos, remédios avançados feitos a partir de organismos vivos para tratar doenças complexas, como o câncer.

Um projeto que foi fortemente anunciado em 2007, a fábrica da Novartis em Jaboatão dos Guararapes (PE) gerou grandes expectativas e prometia ser o nascimento da biotecnologia no Brasil.

O país venceu uma acirrada disputa com a Itália e Cingapura para abrigar o investimento.

Devido a uma série de dificuldades burocráticas e ambientais, a unidade não ficou pronta e as novas previsões foram jogadas para 2017.

Nesta semana, a Novartis comprou a área de oncologia da GSK, que por sua vez adquiriu o ramo de vacinas da suíça, levando ao cancelamento dos planos de fabri car a vacina para mening ite em Jaboatão.

As decisões estratégicas sobre o futuro da produção de Pernambuco ainda não foram tomadas, segundo o presidente da Novartis no Brasil, Adib Jacob.

Ainda não há previsão do momento em que a empresa anunciará quais produtos pretende fabricar no local.

“Resolvemos manter a fábrica no grupo e isso mostra o compromisso que a empresa tem com o Brasil”, diz.

Paralelamente ao esforço da Novartis em sair do papel com a biotecnologia no Brasil, a indústria nacional começou a se movimentar na mesma direção há dois anos.

Apesar de ainda iniciantes, as empresas de biotecnologia nacionais ganharam no mercado o apelido de “superfarmas”, por reunir gigantes do setor na formação de duas companhias, a Bionovis e a Orygen. Libbs e Cristália recentemente decidiram criar projetos sozinhas.

Com o apoio do BNDES elas devem investir, juntas, quase R$ 1,5 bilhão.

“A política industrial é fundamental”, diz Reginaldo Arcuri, presidente do Grupo FarmaBrasil, entidade que reúne empresas brasileiras envolvidas em projetos de inovação.

“É o Estado criando as bases. Não é privilégio porque segue modelos internacionais”, afirma.

A ideia é que o governo federal seja o principal comprador dos remédios biológicos produzidos no Brasil, reduzindo os impactos sobre a balança comercial da saúde, cujo deficit saltou de cerca de US$ 5 bilhões em 2005 para US$ 11,6 bilhões em 2013.

Trata-se de itens de alto valor agregado, que consumiram 43% da verba do Ministério da Saúde com remédios em 2012, embora tenham representado só 5% das unidades adquiridas pelo governo.

Elas irão operar por meio de PDPs (Parceria de Desenvolvimento Produtivo), que prevê a transferência de tecnologia da produção enquanto o governo se compromete a substituir a importação pelo produto nacional. A Novartis ainda não participa de PDPs em biotecnologia.

A Bionovis já está trabalhando no projeto da fábrica no Rio de Janeiro, segundo Odn ir Finotti, presidente da empresa. “Estamos esperando a licença e já contratamos diretor de pesquisa.”

A Orygen, ainda sem definir onde deve instalar sua planta, projeta produção para 2017, de acordo com seu presidente, Andrew Simpson.

Fonte: Valor Econômico