Vírus do ebola pode ter ficado mais contagioso, advertem cientistas

 Pesquisadores franceses que analisam amostras de sangue de pacientes da Guiné afirmam que vírus sofreu mutação.

 

Cientistas que acompanham a evolução do surto de ebola na Guiné dizem que o vírus sofreu uma mutação e pode ter se tornado mais contagioso.

Mais de 22 mil pessoas foram infectadas com o ebola e 8.795 morreram na Guiné, Serra Leoa e Libéria.

Pesquisadores do Instituto Pasteur, na França - os primeiros a identificar a epidemia, em março -, começaram a analisar centenas de amostras de sangue de pacientes de ebola. Eles monitoram as mutações do vírus e tentam descobrir se o ebola está sendo transmitido mais facilmente de pessoa para pessoa.

“Sabemos que o vírus está mudando bastante“, disse à BBC o geneticista Anavaj Sakuntabh ai. “Isso é importante para o diagnóstico (de casos novos) e para o tratamento. Precisamos saber como o vírus (está mudando) para fazer frente ao nosso inimigo.“

Mutações em vírus ao longo do tempo não são incomuns. O ebola é um vírus de RNA - como o HIV e a influenza (gripe) - que têm uma elevada taxa de mutação. Isso o torna mais apto a se adaptar e aumenta o potencial de contágio.

“Identificamos vários casos que não têm nenhum sintoma, casos assintomáticos“, disse Sakuntabhai.

“Essas pessoas podem ser as que mais transmitem o vírus, mas ainda não sabemos. Um vírus pode passar por uma mutação e se tornar menos mortal mas ma is contagi oso - isso é algo que nos deixa com medo.“

Questão de números
Mas a maior incidência de pacientes assintomáticos no atual surto de ebola não é necessariamente uma prova conclusiva de que o vírus se tornou mais contagioso, diz o professor Jonathan Ball, virologista da Universidade de Nottingham.

“Poderia ser simplesmente um jogo de números: quanto mais infecções na população em geral, obviamente veremos mais infecções assintomáticas“, argumenta.

Outra preocupação é que, com mais mais tempo e mais “anfitriões“ para se desenvolver, o ebola sofra mutações que lhe permitam ser transmitido pelo ar. Porém, não há nenh uma ev idência para sugerir que isso está acontecendo. O vírus só é transmitido por meio do contato direto com fluidos corporais de pessoas infectadas.

“Precisamos estudar mais. Mas alguma coisa mostra que existem mutações“, disse o virologista do Instituto Pasteur Noel Tordo.

“Por enquanto, o modo de transmissão ainda é o mesmo. Você só precisa evitar o contato (com a pessoa doente). Mas, como cientista, não é possível dizer que isso não vai mudar. Talvez mude.“

Os pesquisadores estão usando um método chamado sequenciamento genético para acompanhar as mudanças na composição genética do vírus. Até agora, eles analisaram cer ca de 20 a mostras de sangue da Guiné. Outras 600 amostras serão enviadas aos laboratórios nos próximos meses.

Um estudo semelhante feito anteriormente em Serra Leoa mostrou que o vírus ebola passou por uma mutação considerável nos primeiros 24 dias do surto, segundo a Organização Mundial de Saúde.

“Isso certamente levanta uma série de questões científicas sobre transmissibilidade, resposta a vacinas e medicamentos, uso de plasma de pessoas infectadas“, afirmou a pesquisa da OMS.

“No entanto, muitas mutações genéticas podem não ter qualquer impacto sobre a forma como o vírus reage aos medicamentos ou se comporta em populações huma nas.“

Vacinas
A pesquisa francesa também investiga por que algumas pessoas sobrevivem ao ebola e outros não. A taxa de sobrevivência do surto atual é de cerca de 40%.

As conclusões poderiam ajudar no desenvolvimento de vacinas contra o vírus.

Pesquisadores do Instituto Pasteur trabalham atualmente em duas vacinas, que devem ser testadas em seres humanos até o final do ano. Uma delas é uma modificação da vacina contra sarampo, que injeta uma forma enfraquecida e inofensiva do vírus a fim de criar defesas imunológicas no organismo.

Se os testes derem certo, a nova vacina protegeria contra sarampo e ebola. “Vimos agora que essa ameaça pode se estender em escala global. Aprendemos que este vírus não é um problema da África, é um problema para todos“, disse o imunologista do Instituto Pasteur James Di Santo.

“Este surto particular pode minguar e ir embora, mas nós vamos ter outro surto em algum momento, porque os lugares onde o vírus se esconde na natureza - por exemplo, em animais de pequeno porte - ainda são uma ameaça para os seres humanos no futuro. A melhor resposta que podemos ter é uma vacina para todo o mundo.“

Fonte: Portal G1