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Brasil mostra ao mundo suas credenciais científicas
O senhor era o embaixador do Brasil na Hungria quando o país foi escolhido para sed iar o Fórum Mundial de Ciências. Qual a importância de realizar o evento no Brasil?
Após a realização em Budapeste, em 1999, da Conferência Mundial sobre Ciência para o Século XXI, o governo da Hungria decidiu reunir, a cada dois anos, um encontro em Budapeste. Após cinco edições, a Hungria resolveu promover alternância de sede a fim de elevar o perfil internacional do evento. O Brasil se ofereceu como candidato, gesto bem recebido pela comunidade científica internacional. Trata-se de oportunidade para o Brasil tornar mais conhecidas suas credenciais científicas e ampliar sua contribuição para os rumos da ciência e seu impacto no futuro da Humanidade.
Que fatores contribuíram para a escolha do Brasil?
O peso do Brasil como potência emergente e o prestígio internacional decorrente do desempenho econômico e do alcance de suas políticas sociais, além do avanço científico e tecnológico em certas áreas contribuíram para a escolha do país. Ademais, o Brasil é par ceiro internacional importante para a solução dos desafios globais, seja em matéria de desenvolvimento, redução da pobreza, inclusão social, seja em questões ambientais, de segurança alimentar, de energia, e, naquele momento, também em termos financeiros, diante da crise internacional e da formação do G20.
O conceito de diplomacia da ciência não é novo, porém, não é muito difundido fora do meio diplomático e científico. Qual o seu papel no enfrentamento de desafios sociais, como a redução da pobreza?
O conceito é antigo, pesquisa recente feita com o apoio do Centro de História e Documentação Diplomática (CHDD) da Fundação Alexandre de Gusmão (Funag) demonstra como, no século XIX, diplomatas brasileiros já se empenhavam para trazer ao Brasil conhecimentos que pudessem contribuir para o progresso econômico e a modernização do país. Atualmente, o conceito da diplomacia da ciência se fortaleceu na percepção de que desafios globais poderão ser enfrentados de maneira mais eficiente com o apoi o da ciência e de políticas de cooperaç ão internacional. A ciência tem ajudado na criação de condições para a eliminação da pobreza, com métodos e politicas de assistência social, saúde pública e educação adequadas. O Brasil se tornou um exportador de tecnologias sociais que conferem ao país papel de relevo no alcance das Metas de Desenvolvimento do Milênio e no processo de implementação da Agenda de Desenvolvimento pós 2015.
Ainda quanto à diplomacia da ciência, observe-se que valores científicos, como a racionalidade, a transparência e a universalidade, são críticos na cooperação internacional. Ademais, a ciência constitui um dos elementos do chamado “poder brando” na categorização de Joseph Nye. Em geral, a comunidade científica opera em perspectiva universal que pode promover e facilitar o diálogo, o entendimento e a cooperação de alcance global. Cumpre alinhar assim, cada vez mais, a contribuição da comunidade científica aos esforços e objetivos mais amplos da diplomacia e da política externa na defesa do desenvolvimento s ustentável e da paz.
Em que áreas a participação da ciência é estratégica?
O tema Ciência para o Desenvolvimento Sustentável Global trata de um conceito que estabelece o equilíbrio entre o desenvolvimento e a proteção ao meio ambiente. O Brasil ajudou a defini-lo na ECO 92 e a consolidá-lo com a Rio +20. Seu propósito é assegurar a gerações futuras um meio ambiente saudável e condições de vida adequadas. Trata-se de um compromisso de grande importância para a Humanidade e de um conceito abrangente que compreende outras áreas estratégicas ligadas à vida no planeta.
Como aproximar a diplomacia da academia?
Tanto a Fundação Alexandre de Gusmão (Funag) quanto o Instituto de Pesquisas de Relações Internacionais (IPRI) desenvolvem trabalho sistemático de aproximação com a academia por meio de Seminários, Conferências e pesquisas. Essas iniciativas estimulam e promovem a consciência do interesse comum na defesa dos valores fundamentais da nação e de s ua projeção no plano internacional.
Que áreas da ciência brasileira têm tido maior visibilidade na comunidade internacional?
A escolha do Brasil traduz o reconhecimento dos avanços do País em áreas como a das tecnologias sociais, energia, segurança alimentar, saúde e meio ambiente. A conferência mundial dará ainda maior visibilidade aos esforços brasileiros em matéria de educação e ciência. É encorajador o reconhecimento internacional do progresso alcançado por empresas brasileiras como Petrobras, Embraer, Vale, Embrapa, Gerdau, Tecsis, Fiocruz, bem como por entidades promotoras do desenvolvimento nacional em educação superior, tecnologia e P&D, como a CAPES, o CNPq, e financiadoras como o BNDES e o FINEP. Resulta de conquistas fundadas em amplo esforço gerencial, científico e tecnológico. Atestam elas o que há de melhor na educação, na criatividade e no espírito empreendedor da sociedade brasileira. Colocam o Brasil entre as nações que contribuem para a in ternacionalização da ciência, condição obrigatória ao desenvolvimento g lobal, à redução de assimetrias econômicas e sociais em bases sustentáveis.
Que tipo de legado esse evento pode deixar para o Brasil?
Cabe firmar na sociedade brasileira a percepção de que a ciência está mais próxima, ao alcance de todos, e que constitui a verdadeira chave para o bem-estar e o progresso da Humanidade, bem como para o desenvolvimento sustentável do planeta.
Que tipo de legado esse evento pode deixar para o Brasil?
Creio que ele contribuirá para a formação de uma cultura de valorização da educação, da ciência e da importância da pesquisa. Cabe firmar na sociedade brasileira a percepção de que a ciência está mais próxima, ao alcance de todos, e que constitui a verdadeira chave para o bem-estar e o progresso da humanidade, bem como para o desenvolvimento verdadeiramente sustentável do planeta.
Fonte: O Globo