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Proibição de Cytotec não inibe abortos
Embora seja um medicamento proibido para comercialização, é grande a quantidade de mulheres que utilizam o Cytotec para provocar abortos de forma ilícita. Uma pesquisa realizada no ano passado em todo o país, por amostragem aleatória de domicílios, demonstrou que dentre mulheres de 18 a 39 anos em todo o Brasil urbano, uma em cada cinco já realizou o procedimento. Nem mesmo as apreensões e prisões relacionadas à droga têm inibido a sua circulação no mercado paralelo.
O estudo mostra que os níveis de internação pós-aborto são elevados, visto que cerca de metade das mulheres que fizeram aborto recorreu ao sistema de saúde e foi internada por complicações relacionadas ao procedimento. Cerca de 8% das mulheres do Brasil urbano foram internadas em razão do aborto realizado, conforme a pesquisa.
Por ser algo praticado de forma ilícita, não há dados concretos acerca da quantidade de abortos realizados em Roraima. Segundo dados fornecidos pela Secretaria Estadual de Saúde (Sesau), o número de curetagens realizadas no ano passado representou cerca de 20% do número de partos.
Os dados de curetagens incluem outros procedimentos, além da raspagem do útero por causa de abortos. O Hospital Materno Infantil Nossa Senhora de Nazareth (HMINSN) não registra os procedimentos de curetagens como abortos provocados ou espontâneos. No ano passado, foram 1.537 procedimentos realizados. Em contrapartida, o total de partos realizados fechou o ano em 7.929.
Não é preciso procurar muito para encontrar pessoas que realizaram o procedimento e adquiriram o medicamento no mercado negro do Estado. A desempregrada M.T.R, 32, contou que há cerca de dois meses descobriu uma gravidez fruto de uma relação sexual desprotegida com um homem que havia conhecido na mesma noite em uma festa. O aborto foi realizado há cerca de uma semana. “Além de praticamente não conhecer o pai, já tenho outro filho com 3 anos e não tenho condições de bancar mais uma criança“, relatou.
Ela explicou que conseguiu com um amigo o contato de um homem que comercializa o medicamento. O homem explicou para ela que o comprimido custava R$ 65,00 e a cartela com seis comprimidos saía ao valor de R$ 350,00.
A mulher foi orientada pelo vendedor a tomar dois comprimidos por via oral e colocar três no interior da vagina, por meio de aplicadores de cremes vaginais, para que dessa forma chegassem ao colo uterino.
“Para mim foi melhor fazer tudo em casa do que ir a clínicas clandestinas ou qualquer coisa parecida“, disse a mulher, ao afirmar que depois do aborto, precisou ir à maternidade para realizar o procedimento de curetagem (limpeza do útero).
À base do misoprostol, o medicamento era usado no tratamento e prevenção de úlcera do estômago. Constatado que ele provocava contrações uterinas, passou a ser utilizado por médicos para induzir abortos e partos nos casos necessários. No entanto, logo caiu no “mercado negro“, passando a ser comercializado ilegalmente.
Na semana passada, treze pessoas foram presas por policiais federais em cumprimento a mandados judiciais preventivos. A ação policial, batizada de operação Samedi, desarticulou um esquema de venda ilegal do medicamento.
A ginecologista Emília Alexandrino explicou que o maior risco do aborto com uso do Cytotec, feito sem indicação e acompanhamento médico, é o de haver uma hemorragia. Além disso, se os restos fetais ou placentários ficarem retidos, podem ocasionar uma infecção.
Há ainda o transtorno de, no caso de a gravidez persistir, de haver uma má formação no feto. “Por isso salientamos para a necessidade de procurar sempre um médico para indicar os métodos contraceptivos mais indicados para cada mulher“, salientou.
Fonte: Folha Online - RR