Colágenomania

 Autor: Giuliana Miranda

Barras de cereais, ovos de Páscoa, café, refrigerante e até água mineral: a quantidade e a variedade de alimentos com adição de colágeno, que prometem melhorar a firmeza e a aparência da pele, não param de crescer.

Proteína mais abundante do corpo humano, o colágeno é produzido naturalmente pelo organismo e tem papel fundamental nas cartilagens, nos ossos e nos tecidos. Com o passar dos anos, no entanto, sua produção entra em declínio. E é aí que as comidas turbinadas prometem agir.


Facilmente incorporável aos alimentos sem causar mudança no aspecto ou deixar um sabor residual, o colágeno se espalhou por todo tipo de produto. E agora é uma das grandes apostas do setor dos chamados nutracêuticos alimento com propriedades terapêuticas, que movimentou cerca de R$ 13 bilhões no Brasil em 2013, segundo o Euromonitor.


Mas, apesar do sucesso de vendas, os benefícios desse tipo de suplementação ainda são controversos entre os especialistas.


Como o colágeno é uma molécula bastante longa, na hora da digestão ele acaba sendo “dividido“ em aminoácidos menores.


“Mas não há garantias de que esses aminoácidos serão usados para produzir colágeno no corpo. Poderiam servir, por exemplo, para produzir uma outra proteína“, explica o médico Celso Cukier, nutrólogo do Hospital São Luiz.


“Muita gente acha que o colágeno ingerido vai direto para a pele, para deixá-la mais firme, ou para as unhas. Não é bem assim“, completa o médico, que também afirma que não há estudos suficientes comprovando os benefícios estéticos.


Daniela Jobst, nutricionista funcional e membro do Instituto de Nutrição funcional dos EUA, diz que vários trabalhos sobre o tema têm indicado bons resultados da suplementação de colágeno hidrolizado na beleza.


Ela alerta, no entanto, que a adição da proteína aos “snacks“ não necessariamente se traduz nos mesmos benefícios.“É preciso ficar atento à quantidade. Muitas vezes, a adição nos alimentos é mínima e simplesmente não faz diferença“, pondera.


“Além disso, balas e chocolates muitas vezes são repletos de corantes, gorduras e pobres em outros nut rientes“, completa Jobst.


Criadora de uma das empresas pioneiras no segmento no Brasil, a empre sária Cristiana Arcangeli, da Beauty`in, diz que a empresa preza por oferecer opções mais saudáveis, sem adição de açúcar ou gorduras, em seus produtos com colágeno.


“Por isso essa opção mais saudável tem conquistado as consumidoras. Além de serem saborosos, os produtos trazem benefício“, disse.


Mas a adição de nutrientes também costuma ser acompanhada por preços mais altos. Em farmácias e lojas de produtos naturais, a versão de um produto com colágeno costuma custar mais do que o dobro do preço do alimento convencional.


EVIDÊNCIAS

Até agora, há poucos estudos independentes, publicados em periódicos científicos, que comprovem o aspecto estético dos alimentos com colágeno adicionado.


Enquanto isso, os fabricantes têm investido em encomendar testes específicos para universidades e centros de pesquisa. Os resultados têm sido positivos.


O peptídio de colágeno Verisol. fabricado pela multinacional alemã Gelita, tem alguns ensaios em humanos, feitos com apoio da empresa, publicados em periódicos científicos.


Os trabalhos indicam melhora na firmeza da pele e e na profundidade das rugas em mulheres que ingeriram 2,5 mg do produto diariamente durante quatro semanas.


“Ainda é uma área muito nova que suscita dúvidas até nos profissionais. Estamos investindo na parte científica e na divulgação desses resultados. No entanto, não existe milagre. A ruga não some, mas existe uma melhora“, diz Eduardo Araújo porta-voz da Gelita na América do Sul.


A engenheira de alimentos Virgínia Dias, da ChocoLife, diz que a adição de colágeno aos chocolates é uma maneira de torná-lo cada vez mais completo e benéfico.


“Queremos oferecer a maior quantidade de benefícios a quem decide consumir chocolate. O produto também não tem adição de açúcar, glúten e lactose. Ou seja: é uma opção de melhor qual idade do que os doces convencionais“, completa.


Como o colágeno é considerado um alimento seguro, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) não exige que os fabricantes apresentem testes clínicos que comprovem os benefícios estéticos dos alimentos com colágeno.


Esse tipo de teste só seria necessário se os produtos prometessem um resultado específico e dissessem qual seria a porcentagem de redução de rugas, por exemplo. Como os textos são genéricos, não há a exigência.

 

Fonte: Folha de S.Paulo