Criatividade e boa gestão

 Grandes ideias e decisões embasadas em todo o ciclo de vida dos produtos podem auxiliar as empresas a reduzir seus impactos ambientais, principalmente os causados pelas embalagens


 
Não importa o mercado. Sustentabilidade é, de fato, a palavra da vez. Os novos pensamentos e atitudes em prol do meio ambiente e da responsabilidade social, que parecem que já estar embutidos no DNA das novas gerações, faz com que as empresas se preocupem, cada vez mais, em reduzir o impacto de seus produtos no meio ambiente.

Nessa tentativa de transformar o mundo em um lugar mais agradável e limpo, as embalagens de alimentos, cosméticos, ou qualquer outro item do dia a dia, assumiram o papel de vilãs, pois gastam materiais que serão rapidamente descartados, e aumentam o volume de detritos nos lixões a cada dia.

É evidente que tanto a indústria de produtos acabados quanto a de embalagem, já se deram conta da urgência em buscar alternativas mais sustentáveis para a produç ão de frascos, bisnaga s, cartuchos, entre outros. Algumas dessas novidades são até mesmos conhecidas, como o PE Verde – plástico polietileno desenvolvido com fonte 100% renovável – ou mesmo as embalagens biodegradáveis.

Entretanto, apesar de tais alternativas serem válidas e importantes, elas não cabem no bolso da maioria dos empresários. Até mesmo abrir mão de peças importantes para a composição da embalagem – como por exemplo os cartuchos – com o intuito de reduzir impactos e economizar matéria-prima, é uma decisão difícil, principalmente no mercado cosmético, em que a sofisticação e o glamour da embalagem são os atrativos que mais chamam a atenção do consumidor.
Para as empresas de pequeno e médio porte, desenvolver uma embalagem de menor impacto é tarefa ainda mais desafiadora. Ao contrário dos grandes conglomerados, essas empresas além de contarem com orçamento reduzido para o desenvolvimento de produto, também rebolam para negociar quantidades com seus fornecedores que, raramen te, topam ent regar um projeto desafiador, se o pedido não é grande.

Porém, como outro lema que norteia os empresários modernos é o “pensar fora da caixa”, é preciso entender que com criatividade é possível desenvolver uma embalagem de menor impacto, bonita e que ainda seja econômica. É tudo uma questão de design e gestão.

Ponto para o design
De acordo com Margot Takeda, CEO da agência A10, e Karen Santos, CEO da Agência Creez, hoje, mais do que nunca, o impacto de cada processo da cadeia de produção é levado em conta na hora de desenvolver um produto. “Essa visão da cadeia fica clara quando pesamos na área que o produto irá ocupar, pois ele ocupando menos área, o cliente economiza em logística, o que demanda menos gasolina e emite menos gases na atmosfera”, exemplifica Margot. Karen Santos reforça a ideia da profissional da A10 ao lembrar que a economia de material também é um ponto crucial para reduzir o impac to ambien tal de uma embalagem. “Diminuir o volume das embalagens é a maneira mais simples e efetiva de reduzir o impacto ambiental de uma embalagem, porque você diminuindo o volume de matéria-prima, você reduz tudo na cadeia”, destaca.

Essa diminuição de área e volume a qual as profissionais do segmento comentaram, demonstra que a maneira mais eficaz para ter uma embalagem mais sustentável é cortando os excessos. Isso pode ser feito não somente retirando partes da embalagem que, em alguns casos, não são necessárias, como por exemplo, os cartuchos, mas também apostando em um design mais criativo que consiga reduzir a quantidade de material utilizado na embalagem, sem impactar na usabilidade do produto.

Entretanto, Margot esclarece que esse processo não é tão executável e simples. A essência da embalagem é ser funcional e proteger o produto, o descarte de um cartucho, por exemplo, pode fazer com que um item chegue até o consumidor em pedaços. É possível perceber novamente, a im portância de se pensar na cadeia, em todos os processos pelos quais este produto irá passar até chegar ao seu cliente.

Ela ainda sublinha que, para cosméticos e itens de higiene pessoal, não é só a questão da funcionalidade que pesa. “O mercado de beleza, em específico o de perfumaria, tem um jeito de se vender, pois ele vende muito glamour. Mas mesmo quando a gente vai pensar em uma embalagem de vidro, é possível pensar nela sem tanto material, mas que passe a ideia de que ele possui bastante material”, explica.

Gestão inteligente, impacto reduzido
De fato, apesar de ser o método mais simples e eficaz de reduzir impactos ambientais, não são todas as empresas, em todos os projetos, que estão dispostas a abrir mão de algum dos componentes da embalagem. A alternativa encontrada por algumas delas para desenvolver uma embalagem mais sustentável, é procurar produzi-las com materiais mais sustentáveis, como papel reciclado, ou ma teriais plá sticos que sejam biodegradáveis ou que não sejam derivados de petróleo.
Porém, os custos para a utilização de tecnologias deste tipo não são baixos, o que torna essa alternativa pouco viável para diversas empresas, principalmente as de pequeno e médio porte. Além disso, Karen ressalta que nem tudo é como parece, e que quando a cadeia é analisada até o final, percebe-se que muitos desses materiais “mais verdes” podem ser mais impactantes do que os utilizados comumente pelo mercado. “Não adianta buscar soluções que irão gerar somente outros problemas. É o caso do plástico biodegradável, que quando descartado, pode gerar impactos negativos no solo. O problema só sumiu da nossa frente, mas não foi eliminado efetivamente”, alerta.

Analisando a afirmação da CEO da Creez é possível concluir que desenvolver uma embalagem que causará menor impacto no meio-ambiente não está necessariamente ligado a uma questão da escolha do material, mas sim da gestão do processo, das escolhas que a e mpresa faz, tendo como base toda a cadeia de embalagem, algo que pode ser feito por todas as companhias, independentemente do tamanho.

Exemplo verde
A Feito Brasil, empresa especializada na confecção de cosméticos veganos, que tem apenas dez anos de atuação no mercado, demonstra isso com maestria. Lena Perón – mais conhecida como Mama – fundadora da marca, conta que a única etapa do seu processo de produção que é feito fora da empresa é a confecção das embalagens, com exceção das ilustrações que as enfeitam.

A fundadora da marca assume que, pelo porte da empresa, ela não cosegue investir no design de um molde exclusivo, assim como na utilização de um material que gere menos impacto; tudo na Feito Brasil é feito com embalagem standart. Porém, em termos de impactos ambientais, ela não vê nisso uma desvantagem. ”A criação e o desenvolvimento de uma nova embalagem demanda um novo ferramental, que també m gera um impac to ambiental, e o molde exclusivo também vai gerar uma agressão no ambiente. Usando o que já existe, os impactos são menores”, esclarece.

Tendo isso em mente, Mama Lena pauta suas decisões de compra de embalagens e utilização de tecnologias pelo tripé que sustenta os valores da empresa: sustentabilidade, responsabilidade social e valorização da arte e da cultura brasileira. No segmento de embalagens, por exemplo, isso se reflete na decisão de qual tipo de material será utilizado. Lena conta que a Feito Brasil utiliza somente PET e alumínio, pois não são somente mais simples de serem reciclados, como também são os que contam com o maior número de cooperativas de catadores. Além disso, a empresa – ao contrário de boa parte do mercado de higiene pessoal e beleza – dispensa o uso de aerossóis, pois apesar deste tipo de tecnologia dispensar o gás CFC – que causa danos à atmosfera – ela faz uso do GLP, que é um derivado do petróleo. A empresa faz a substituição com um si stema d e sucção.

No estudo desenvolvido pela equipe da empresa para a escolha de métodos de embalagem, também são essenciais questões como o volume ocupado pelas caixas durante o transporte, assim como o rótulo utilizado. “Não adianta o frasco ser PET se o rótulo não descolar dela com facilidade, se não for assim, o frasco será jogado fora”, revela Lena.

Porém, a grande marca da Feito Brasil é a criatividade sustentável. Em uma de suas coleções, a Deixa Fluir, os cartuchos foram substituídos por saquinhos 100% PET. Outra aposta interessante da empresa para deixar as embalagens mais bonitas é escolher temas para suas coleções, e daí trabalhar com ilustrações feitas à mão pela diretora de Arte, que depois são passadas para o computador. Os desenhos não só agregam charme e valor à embalagem, como servem como um forte fator de identificação da marca. “Quando criei a Feito Brasil, percebi que se você juntasse diversos produtos das mais variadas marcas e tirasse a logo , era difícil identif icar quem havia criado o que. O meu objetivo na Feito Brasil é que, mesmo que não estivesse ali o nome da empresa, as pessoas conseguissem identificar nossos produtos”, conta a fundadora da Feito Brasil.

Da produção ao descarte
É óbvio que o caso da Feito Brasil é uma exceção em um ambiente empresarial. O círculo sustentabilidade, responsabilidade social e valorização da cultura nacional é um pilar que, inclusive, leva a empresa a tomar decisões que serão mais custosas e tornam seus processos menos rentáveis.
Para empresas que possuem uma outra dinâmica, o caso da Feito Brasil e as orientações das profissionais do design mostram que passam pelo caminho da redução do impacto ambiental a questão da economia, e de uma gestão eficiente, embasada em uma detalhada análise da cadeia do produto, que abrange desde a sua produção até o seu descarte.

Saúde enfrenta fila de 4 anos para importar

Fonte: Interfarma

Número de pedidos atrasados chega a cerca de mil; agência adotou mudanças neste ano para acelerar o processo


Além das filas para liberação de medicamentos e pesquisas na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), o setor de saúde enfrenta uma longa espera para importar produtos e equipamentos médicos.

Existem aproximadamente mil pedidos atrasados para dar fluxo à importação de itens como equipamentos para cardiologia e tomografia.

Para que tenham a entrada liberada, técnicos da Anvisa precisam viajar ao exterior para inspecionar os fabricantes e avaliar se eles podem rece ber seu certificado de boas práticas de fabricação.

Cerca de 60 itens est ão parados há cerca de quatro anos, quando a necessidade de vistoria internacional pela Anvisa foi instalada.

Antes de 2010, os importadores ou multinacionais com operação no Brasil que queriam trazer seus produtos entravam com uma solicitação de registro no órgão.

A Anvisa, então, recebia o pedido e dava prosseguimento à liberação com base no certificado de boas práticas de fabricação emitido por agências de vigilância estrangeiras. O tempo de espera, de 6 a 12 meses, era compatível com o padrão internacional.

O gargalo atual atrasa a entrada de tecnologias no país, segundo Carlos Goulart, presidente da Abimed, que representa o setor. Como o ciclo de inovação nesse mercado é de cerca de dois anos, os itens chegam defasados.

“Os produtos para saúde têm um ciclo de inovação muito rápido, que a regulação não acompanha. O resultado é que acabam sendo colocados produtos zero quilômetro no mercado, mas são modelos passados“, diz.

“Muitas vezes, ao chegar aqui, for am substituídos em outros países por tecnologias que já são até mais baratas ou mais eficientes“, diz Francisco Balestrin, presidente do conselho da Anahp (que reúne hospitais privados).

MUDANÇAS

Na tentativa de acelerar o processo, a Anvisa definiu no início deste ano que não vai mais ser necessário emitir o certificado de boas práticas de fabricação para os produtos de classes de menor risco, como luvas e seringas.

“Isso elimina a necessidade de inspeções para as linhas de produção de itens considerados de menor complexidade, mas não altera os critérios de eficácia e segurança exigidos para o registro“, informa a agência.

A iniciativa, diz a Anvisa, atinge cerca de 300 empresas que aguardam a emissão do certificado, o equivalente a 25% dos pedidos em espera.

Outra ação, segundo o órgão, é um projeto piloto para unificar as auditorias, ou seja, permitir que a supervisão dos órgãos equivalentes em outros países sejam aceitas para a importação de produtos médi cos e vice versa.

O projeto, contudo, ainda não entrou em operação.

Fonte:Cosmética News