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Revolução da longevidade começa ao nascer
Transição de país jovem a idoso requer resposta radical do sistema de saúde, que deve priorizar medidas preventivas
ALEXANDRE KALACHE ESPECIAL PARA A FOLHA
O Brasil vive uma revolução “silenciosa“ com grande impacto em toda a sociedade: a revolução da longevidade.
Em 1950, a expectativa de vida do brasileiro andava por volta de 45 anos. Hoje ela chegou a 75 e as projeções indicam que antes de 2050 --quando a proporção dos que têm mais de 60 anos terá alcançado 30% - ela terá ultrapassado 80 anos. Seremos um Japão de hoje, o país mais envelhecido do mundo.
Uma transição tão rápida de um “país de jovens“ a um longevo exige do setor saúde uma resposta radical, pois, sem saúde, o envelhecer deixa de ser uma conquista para virar um imenso problema. Não faz sentido!
A Organização Mundial da Saúde define o “envelhecimento ativo“ como o processo de otimizar as oportunidades para saúde, educação continuada, participação e segurança de modo a promover a qualidade de vida à medida que envelhecemos. A definição pressupõe uma perspectiva de curso de vida.
O processo de envelhecer tem início até mesmo antes de nascermos. Quanto mais cedo começa-se a otimizar as oportunidades de saúde, mais preparados estamos para envelhecer bem. Está implícita a importância da prevenção.
Ao envelhecermos, as doenças crônicas passam a ter um peso crescente. Já hoje 75% das mortes no Brasil são causadas por t ais doenças, que em grande par te podem ser prevenidas ou ao menos postergadas. Tais enfermidades não só matam como são responsáveis por grande carga de morbidade e incapacidade, com custos em espiral.
A chamada transição epidemiológica --das doenças agudas, sobretudo infecciosas, para as crônicas-- já se fez. No entanto, continuamos priorizando modelos voltados para o agudo, tratando de doenças crônicas como se elas fossem episódicas.
É primordial desenvolver uma cultura do cuidado. Até porque ainda não sabemos o suficiente para a prevenção e o tratamento de doenças degenerativas altamente incapacitantes como, a doença de Alzheimer, e problemas osteomusculares cuja prevalência irá aumentar exponencialmente, pois o grupo de idade que mais cresce no Brasil hoje é o dos mu ito idosos, com mais de 80 anos.
Se o envelhecimento ativo interessa ao indivíduo, concerne também a quem presta serviços - e a quem, afinal, paga a conta, seja o setor público, seja o privado.
Medidas preventivas transcendem o setor da saúde. Os planos de saúde devem investir muito mais na prevenção, inclusive estimulando-a.
Urge também desenvolver um sistema que garanta um contínuo de cuidados: da promoção à saúde e prevenção aos cuidados primários, secundários e terciários. Do berço à sepultura, um sistema que nos atenda de modo holístico, com continuidade.
A experiência internacional mostra claramente que os sistemas de saúde mais preparados, exitosos e sustentáveis são os centrados em uma atenção primária à saúde.
A revolução da longevidade exige a adoção de tais modelos, não somente no setor púbico, mas também no privado. As empresas que mais eficazmente responderem a esses desafios sairão à frente. Afinal, há desafios, sim, mas também imensas oportunidades.
ALEXANDRE KALACHE é presidente, do Centro Internacional de Longevidade Brasil (International Longevity Centre ““ Brazil).
Fonte: Folha de S.Paulo