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Reckitt prepara venda de braço farmacêutico
A Reckitt Benckiser prepara o caminho para a possível venda de seu braço farmacêutico, que não considera essencial dentro das principais operações do grupo, de bens de consumo, e que poderia valer mais de 2 bilhões de libras esterlinas (US$ 3,25 bilhões).
O grupo iniciou uma avaliação da unidade, a RBP, dentro da estratégia de concentrar-se mais em s uas principais marcas como os analgésicos Nurofen, o sabão Finish para máquinas de lavar louça e os preservativos Durex.
O CEO da Reckitt Benckiser, Rakesh Kapoor, disse que a avaliação “vai considerar todas as opções para maximizar o valor [dos ativos] para nossos acionistas. Acreditamos que a avaliação vai levar algum tempo e atualizar os acionistas ao longo de 2014.“
As ações da Reckitt Benckiser fecharam a sessão de ontem em baixa de 5,2%, cotadas a 47,34 libras. A divisão farmacêutica perdeu em 2009 a exclusividade de seu principal produto, o Suboxone, um substituto da heroína.
Para o analista Graham Jones, da Panmure Gordon, a divisão farmacêutica deve valer cerca de 2 bilhões de libras. “Eles precisam vender isso para uma empresa farmacêutica propriamente dita e seguir adiante com a tarefa de ser uma empresa de marcas de consumo“.
O analista Martin Debbo, da Investec, considerou “plausível“ um valor entre 2,5 bilhões e 5,5 bilhões de libras par a a unidade.
Debbo acrescentou que Reckitt Benckiser fez um bom trabalho em proteger a participação de mercado da divisão farmacêutica, mas que isso teve seu preço nas margens de lucro.
A notícia sobre a avaliação estratégica da unidade chegou paralelamente ao anúncio dos resultados da Reckitt Benckiser no terceiro trimestre, que ressaltaram a piora de desempenho da RBP em relação aos números das marcas de produtos de higiene e saúde.
A receita do grupo somou 2,5 bilhões de libras no trimestre, 5% a mais do que mesmo período de 2012, considerando uma taxa de câmbio constante. A receita das operações comparáveis da unidade farmacêutica caiu 16%.
Em fevereiro, Kapoor disse que a Reckitt tem um foco cada vez maior em seus “mercados fortes“, muitos dos quais estão em países emergentes e que representam quase metade de sua receita líquida com produtos principais.
O Suboxone (conhecido genericamente como bruprenorfina), da Reckitt, dominava um mercado com vendas anuais superiores a US$ 1,6 bilhão. Agora, a empresa tenta livrar-se de sua própria dependência em relação à droga, que representou mais de 20% do lucro operacional do grupo em 2012.
Com receita de 837 milhões libras em 2012, o braço farmacêutico trouxe lucro operacional de 536 milhões de libras.
Nos três primeiros trimestres do ano, a receita com o Suboxone e sua versão anterior, o Subutex, caíram 5% em relação ao mesmo período de 2012, para 591 milhões de libras, embora, segundo o grupo, tenham mantido participação de mercado de 68%.
O declínio é reflexo da concorrência dos genéricos, desde que as patentes do Suboxone começaram a vencer em 2009.
Neste ano, a Agência de Remédios e Alimentos (FDA, na sigla em inglês) dos Estados Unidos autorizou duas versões genéricas mais baratas da pílula, incluindo uma da Actavis. Nos próximos meses, o mercado ficará ainda mais vulnerável a concorrentes.
Reckitt lutou contra a perda de exclusividade lançando a versão reformulada “Suboxone Film“, via sublingual, elaborada para aumentar a eficácia e simplicidade e para reduzir abusos, ampliando a patente até 2020.
Também trabalha em uma versão injetável e em outros tratamentos contra o vício em cocaína.
A rede de farmácias CVS Caremark, dos EUA, no entanto, retirou o produto no verão americano da lista dos que têm reembolso pelas seguradoras de saúde, refletindo o ceticismo quanto à necessidade de pagar a mais por tais reformulações quando alternativas mais baratas ficam disponíveis.
Novas versões estão sendo lançadas por outras empresas, como a Orexon, da Suécia, que recentemente ganhou aprovação dos reguladores nos EUA para o Zubsolv, uma variante sublingual, com gosto de menta.
Um alto executivo de uma empresa rival disse que ele e colegas já foram sondados sobre a aquisição da unidade há vários meses, mas que ninguém se interessou. “É um produto complexo demais, para a maioria das empresas de genéricos, e exige uma forma de marketing muito responsável, para as empresas farmacêuticas tradicionais“.
Também destacou que os tratamentos contra vícios em opiáceos continuam a enfrentar muitas complicações, como a necessidade de negociar com serviços sociais, polícia, reguladores e autoridades de saúde pública de cada país, muitas vezes, em meio a uma opinião pública hostil.
Na Europa, em particular, para um produto ser bem-sucedido, o executivo diz que seria necessária uma harmonização muito maior na abordagem entre países, para reduzir custos e elevar as vendas.
Um executivo de banco não envolvido no processo da venda disse não entender “porque eles estão vindo a público“. “[A unidade] não é fácil de vender e não é candidata a desmembrar-se. Talvez, eles estejam indo a público para mostrar que, pelo menos, tentaram.“
Apesar dos esforços para reduzir os abusos com opiáceos vendidos sob receita, é provável que continuem expandindo-se no tratamento de viciados. Será, no entanto, um mercado cada vez mais de nicho, exigindo empresas corajosas que equilibrem os riscos e custos envolvidos.
Fonte: Valor Econômico
Por Andy Sharman e Andrew Jack | Financial Times