Notícias
Home / Notícias
Barulho, incômodo e prejudicial
RIO - A poluição atmosférica figura no centro dos principais debates sobre problemas ambientais e à saúde. Inclusive, esta semana, a Organização Mundial de Saúde (OMS) apontou que, em 2010, 223 mil pessoas morreram por câncer de pulmão pelo contato com o ar poluído. Acontece que a poluição sonora, o intenso ruído inerente aos grandes centros urbanos, tem menos destaque neste debate, mas traz sérios riscos, não só para a audição. P or isso mesmo, desde 2011, a própria OMS a considera como o segundo tipo de poluição que mais causa doenças no mundo, à frente daquelas causadas pela água suja. E é também um dos principais motivos de queixas de moradores cariocas.
O Disque Denúncia do Rio, um canal voltado principalmente para a população informar às autoridades sobre crimes, curiosamente também coleciona reclamações de barulho: entre 2008 e 30 de setembro último, ele recebeu 33.887 telefonemas, ficando no segundo lugar no ranking e perdendo apenas para tráfico de drogas. A central de atendimento da prefeitura (pelo número 1746) acumulou 15.180 chamados desde 2011, 532 apenas no mês passado.
- Tem obra semana sim, semana não na minha rua em Botafogo. É um inf erno. Hoje (sexta-feira) mesmo, eu acordei pouco depois das 8h porque o barulho começou. Voltei a dormir depois de uma hora, mas não é a mesma coisa. Dormi menos de oito horas, que são necessárias para eu ficar bem. Estou com sono ainda - conta a jornalista Tatiana Cavalcanti.
Além de obras, ela enfrenta o barulho de um bar perto de casa.
- Me acostumei a dormir de tampões, justamente por morar em cima de um bar que fecha à 1h30m. Abre todo dia, mas o pior é de quarta a domingo.
Além de possíveis problemas à audição, a Academia Brasileira de Audiologia alerta que há outros prejuízos à saúde relacionados ao barulho intenso: zumbido, insônia, aumento da produção de hormônios da tireoide, de adrenalina e corticotrofina; dor de cabeça, ritmo cardíaco acelerado, entre outros.
Aliás, uma pesquisa do Imperial College London divulgou há uma semana que moradores do entorno do aeroporto de Heathrow, em Londres, tinham maior risco de desenvolver doenças cardiovasculares. O estudo, publicado na “British Medical Journal” (BMJ), aponta que as chances cresciam até 20% para aqueles expostos continuamente ao intenso ruído dos aviões, que atinge os cerca de 130 decibéis.
O limite recomendável para a saúde é de 85 decibéis. Isto consta da legislação brasileira (11.291/06), que obriga fabricantes e importadores d e equipamentos eletrônicos que emitem som a inserirem uma advertência sobre o risco de danos à audição para aqueles expostos a potências superiores a isso.
Problemas cardíacos ligados ao barulho
A coordenadora do estudo no Imperial College London, Anna Hansell, tenta, mesmo assim, não alarmar.
- O papel exato dos efeitos na saúde da exposição ao ruído não é claramente compreendido - afirmou ao GLOBO. - Sabemos que essa exposição pode ser muito irritante e que algumas pessoas são mais sensíveis a isso. Também existem vários estudos que vêm sugerindo que a exposição de longo prazo à poluição sonora pode aumentar as chances de o indivíduo ter hipertensão. A maioria deles estudava o ruído do trânsito, há poucos ainda sobre o de aeronaves.
O estudo britânico foi publicado na BMJ junto com um outro, americano, mostrando que a exposição ao barulho de aviões está relacionada a mais internações por doenças cardiovasculares entre idosos nos Estados Unidos.
A OMS diz que não há evidências suficientes, mas corrobora que “é b iologicamente plausível” que o ruído esteja relacionado a hipertensão, infarto do miocárdio, depressão e outros problemas de saúde. A organização concorda que a pertubação do sono pelo ruído é responsável pelo aumento do ritmo cardíaco e por mudanças no padrão de sono. Além disso, causa distúrbios do sono, leva ao aumenta do uso de medicamentos e à chamada insônia ambiental. “Enquanto problemas no sono causados por ruído sejam vistos como um problema de saúde em si, ele também leva a mais consequências para a saúde e o bem-estar”, afirmou num relatório sobre diretrizes para o ruído noturno.
- Levando em conta o incômodo e os possível efeitos à nossa saúde, há boas razões para que autoridades considerem a exposição ao ruído como parte da política de transporte e do planejamento urbano - complementa Anna.
No Brasil, uma resolução de 1994 instituiu o Selo Ruído, com o objetivo de combater a poluição sonora. Agora, o Inmetro passará a avaliar o nível de emissões de barulho de três eletrodomésticos considerados mais barulhentos: liquidificadores, aspiradores de pó e secadores de cabelo. O órgão vai classificar os decibéis de “1” (mais silencioso) a “5” (menos silencioso). A medida vale a partir de 2014, e a ideia é depois incluir outros equipamentos à lista.
Fonte: O Globo