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Entre adolescentes, o conhecimento de métodos contraceptivos nem sempre se reflete em uso
Mesmo jovens esclarecidos sobre o assunto podem acabar não usando ou utilizando-os de maneira incorreta, diz pesquisa.
A adolescência é a fase em que muitos iniciam sua atividade sexual, de maneira que a atenção a este grupo é de primeira importância para que sejam evitados os riscos advindos de tal prática. O artigo “Análise da produção científica sobre o uso dos métodos contraceptivos pelos adolescentes”, publicado ano passado na Revista Brasileira de Enfermagem, propôs-se a rever os trabalhos do banco de dados da Coordenação de Aperfeiçoamento Pessoal de Nível Superior (CAPES) sobre o tema, produzidos entre 1997 e 2007.
Segundo as autoras Rita de Cássia Mendonça e Telma Maria de Araújo, do departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Piauí, essa investigação é importante porque “o conhecimento sobre os métodos contraceptivos e os riscos provenientes de relações sexuais desprotegidas é importante para que os adolescentes possam vivenciar sua atividade sexual de forma adequada e saudável, assegurando a prevenção de uma gravidez indesejada e das doenças sexualmente transmissíveis/AIDS, além de ser um direito que possibilita ao ser humano, o exercício da sexualidade desvinculado da reprodução”.
Com o estudo, as autoras perceberam duas realidades preocupantes: ainda há um número elevado de adolescentes que relata não conhecer métodos contraceptivos; e outra parcela considerável embora os conheça, não os usa em suas relações.
O não conhecimento, dizem as pesquisadoras no artigo, se relaciona diretamente com o nível de escolaridade dos jovens. “A(O) adolescente que não estuda ou abandonou os estudos fica mais vulnerável à gravidez na adolescência ou a aquisição de uma DST”, de forma que “o abandono escolar apresenta-se como fator de risco individual importante na adolescência”. Ao mesmo tempo, tal realidade ajuda na perpetuação de mitos, “como a ideia de que o DIU atrapalha a relação sexual ou que o coito interrompido é eficaz na prevenção da gravidez”, diz o artigo.
Ao mesmo tempo, houve pesquisas nas quais se percebeu que “o conhecimento (sobre métodos contraceptivos) necessariamente não predispõe à mudança de comportamento”. Segundo Rita e Telma, dentre as justificativas para o não uso de contracepção, independente de haver informações sobre sua existência, destacam-se: “dificuldade de diálogo com o parceiro, a qualidade e/ou inadequação da informação a respeito da contracepção e reprodução, assim como sobre o uso correto de métodos anticoncepcionais”. Dessa forma, acreditam as autoras, “não obstante o conhecimento adequado seja um importante fator para a adoção de atitudes corretas, não é raro às vezes em que o conhecimento não apresenta essa relação de linearidade com a atitude, pois as circunstâncias em que o sujeito está inserido poderão influenciá-lo a tomar uma conduta dissonante”.
Por fim, as pesquisadoras destacam o fato de não terem encontrado pesquisas que sugerissem soluções e formas de enfrentamento ao não uso ou uso inadequado de métodos contraceptivos por adolescentes. Na visão das autoras, é necessária a criação de estratégia para aumento de investimentos em educação e em políticas públicas que permitam que profissionais, lado a lado com adolescentes, discutam “não somente os aspectos fisiológicos (da atividade sexual), mas também, a afetividade, o amor e os relacionamentos”, concluem.