Setor farmacêutico cresce acima do PIB

 De acordo com projeções recentes do Fundo Monetário Internacional, o Brasil deverá fechar o ano com crescimento de 2,5% no Produto Interno Bru to (PIB), mesmo patamar previsto para 2014 – contudo, menor do que a estimativa ant erior do fundo, que previa elevação de 3,2% para o ano que vem. Se essas previsões se confirmarem, o País terá a menor taxa de crescimento entre os emergentes China, Índia, Rússia, África do Sul e México. Embora também esses países tenham tido suas previsões de crescimento reduzidas para 2014. O novo cenário menos favorável a eles se deve a problemas regulatórios, de infraestrutura e desajustes fiscais não resolvidos, e ao arrefecimento dos estímulos à economia implementado pelos países desenvolvidos, principalmente pelos EUA, para enfrentar a crise iniciada em 2008. O FED (banco central norte-americano) tem sinalizado inclusive que os juros por lá devem subir, o que fez recentemente o dólar disparar em vários países.


Esse novo cenário global, em que os emergentes perdem fôlego, pegou o Brasil no contrapé, fazendo com que nossos gargalos – problemas na infraesturtura e logística, exportações em baixa, inflação mais alta – se sobressaíssem. A inflação perto do teto da meta (6,5%) obrigou o Banco Central (BC) brasileiro a promover seguidas elevações (cinco até agora) da taxa básica de juros (Selic), que atingiu 9,5% e pode chegar a 10% na próxima reunião do Copom, o que pode comprometer ainda mais o crescimento da economia. Já o dólar – que chegou perto de R$ 2,45 e perdeu fôlego com ações do BC, ficando na casa dos R$ 2,20 – ainda preocupa, pois se caírem os estímulos do governo norte-americano (que inundou o mundo de dólares), a tendência é que ele se valorize, pressione a inflação, reduza o consumo e torne mais caro a compra de insumos e de máquinas pelas empresas brasileiras. Nesse contexto, crescer 2,5% este ano não será de todo mal.


“Nos últimos anos o Brasil sobreviveu, de forma razoável, a duas grandes crises financeiras no cenário internacional – a de 2008 e 2009, que teve como ator principal os EUA e, mais recentemente, entre 2011 e 2013, tendo a Europa como protagonista. Diante de cenários mais recentes, não afirmo que o pior já passou. Fatores como crédito e consumo são muito influentes no humor da economia brasileira. De modo geral, o cenário econômico nacional aponta para perspectivas positivas, e a oscilação que sentimos não demonstra um mercado nervoso ou incerto para os investidores”, avalia o diretor-executivo do Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade (ICTQ), 
Marcus Vinícius Andrade. Segundo o execut ivo, as medidas que o governo vem tomando para controle da inflação, como a elevação da Selic, estão gerando melhora nos indicadores, mesmo que proporcionem uma letargia na atividade industrial. “Quem espera uma crise no País ou quem imagina um crescimento substancial apostará errado. Não teremos nem uma coisa nem outra”, acrescenta o professor de pós-graduação e pesquisador associado do FGV-Saúde, da Fundação Getúlio Vargas, Wilson Rezende. “No curto prazo, não há crise no horizonte nem um período mais virtuoso. Teremos um crescimento modesto, na casa dos 2,5%. Por alguns anos será assim.”


Para Rezende, o País mantém, dessa forma, média histórica tímida d e crescimento com alguns pic os. “O chamado voo de galinha continua como uma boa metáfora para a economia brasileira. Mesmo durante o chamado milagre econômico (início dos anos 1970), quando o País registrou crescimento de dois dígitos, este não se sustentou. Nos últimos 40 anos, a média de crescimento oscila entre 2% e 3%”, observa o professor. Contudo, isso não impede que alguns setores se sobressaiam e cresçam muito mais e de forma sustentada. Entre eles, o agronegócio e o segmento de serviços. Já no ramo industrial quem tem se destacado, sobretudo na última década, é o setor farmacêutico, com crescimento recorrente de dois dígitos. Entre 2003 e 2011, o Brasil passou da décima para a sexta posição no mercado farmacêutico mundial. Segundo projeção do IMS Health, a posição da indústria farmacêutica brasileira no cenário internacional vai ganhar ainda mais destaque nos próximos anos. Para 2016, a previsão é que o País ocupe a quarta colocação, atrás apenas dos EUA , China e Japão. “Esse cenári o oferece as projeções mai s otimistas possíveis para a indústria farmacêutica brasileira”, acredita Marcus Vinicius Andrade. 

Marcelo de Valécio Apesar do desaquecimento da economia, setor deve fechar o ano com alta de dois dígitos e mantém otimismo para 2014