Índices de morte por câncer de mama são os mesmos em mulheres que fazem ou não mamografia

 NOVA YORK - Um dos maiores e mais meticulosos estudos de mamografia já feitos, envolvendo 90 mil mulheres durante 25 anos acrescentou novas e poderosas dúvidas sobre o valor dos testes de rastreamento para mulheres de qualquer idade. Este trabalho descobriu que índices de morte por câncer de mama e por todas as causas eram os mesmos em mulheres que tinham ou não feito mamografia. E a seleção teve danos: um em cada cinco tumores encontrados através de mamografia não eram uma ameaça para a saúde da mulher e não precisavam de tratamento, como quimioterapia, cirurgia ou radioterapia.

O estudo, publicado esta semana na British Medical Journal é uma das poucas avaliações rigorosas sobr e mamografia conduzidas na era moderna dos mais eficazes tratamentos para câncer de mama. Mulheres canadense s entre 40 e 59 anos escolhidas aleatoriamente fizeram mamografias regulares e exames de mama com enfermeiros treinados ou fizeram exames de mama sozinhas.

Os pesquisadores procuraram determinar se havia alguma vantagem em encontrar tumores de mama pequenos demais para sentir. A resposta é não, relatam os pesquisadores.

O estudo parece levar a uma polarização entre aqueles que acreditam que a mamografia regular salva vidas, incluindo a de muitos pacientes de câncer de mama, e um crescente número de pesquisadores que diz que as evidências são poucas, ou pelo menos, sombrias.

- Isso fará com que as mulheres se sintam desconfortáveis - disse Russell P. Harris, especialista no exame e professor de medicina na Universidade da Carolina do Norte, Chapel Hill, que não participou do estudo.

A descoberta não levará a mudanças imediatas nas diretrizes da mamografia, e muitos advogados e especialistas disputarão a ideia de que mamografias são um equilibrio inútil, ou mesmo pr ejudicial.

O médico Richard C. Wender, comandante de controle de câncer da Sociedade Americana do Câncer, disse que a sociedade tinha convocado um painel de especialistas que estava revendo todos os estudos sobre a mamografia, incluindo o canadense, e emitiria orientações revistas ainda este ano. Ele acrescentou que os dados combinados de ensaios clínicos de mamografia mostraram que o exame reduz a taxa de mortalidade por câncer de mama em pelo menos 15% para as mulheres na faixa dos 40 anos e em pelo menos 20% para as mais velhas.

Isso significa uma em cada mil mulheres que começa a fazer o exame aos 40 anos, duas em mil que começam aos 50 anos e três em mil que começam aos 60 anos evitarão a morte por este tipo de tumor.

Mas um editorial que acompanha o novo estudo explica que trabalhos anteriores que pregavam que as mamografias ajudavam as mulheres foram feitas antes do uso rotineiro de drogas como o tamoxifeno, que reduziu drasticamente a taxa de mortalidade por câncer d e mama. Além disso, muitos estudos não usam os métodos padrão ouro do ensaio clínico, atribuindo aleatoriamente mulheres para serem examinadas ou não, observou o autor do editorial, a médica Mette Kalager, e outros especialistas.

Kalager, uma epidemiologista e pesquisadora de rastreamento na Universidade de Oslo e na Escola de Saúde Pública de Harvard disse haver uma razão para que os resultados fossem diferentes dos estudos anteriores. Com tratamentos melhores, como o taximofeno, não é tão importante descobrir o tumor no início. Além disso, segundo ela, as mulheres no estudo canadense estavam cientes dos perigos do câncer de mama, ao contrário das mulheres em estudos anteriores que estavam mais propensos a ignorar os primeiros sinais da doença.

- É possível que a mamografia funcione quando não se tem qualquer consciência da doença - disse ela.

O estudo canadense chegou à mesma conclusão sobre a falta de um benefício de mamografias depois de 11 a 16 anos de acom panhamento, mas alguns especialistas previram que com o passar do tempo as vantagens emergiriam.

Isso não aconteceu, mas com mais tempo os pesquisadores puderam, pela primeira vez, calcular a extensão do excesso de diagnóstico, como encontrar cancros que nunca teriam matado as mulheres, mas que levaram a tratamentos que incluíram cirurgia, quimioterapia e radioterapia.

Muitos tipos de câncer, os pesquisadores reconhecem agora, crescem lentamente, e não necessitam de tratamento. Alguns tipos de câncer, diminuem ou desaparecem por conta própria. Mas uma vez que o câncer é detectado, é impossível saber se ele é perigoso, por isso, os médicos tratam todos eles.
 

Fonte: Portal O Globo