Remédio estimula indústria de Goiás

 Em setembro, foi a que mais cresceu comparado a igual mês de 2012 — 12,8%, bem acima da média nacional de 2,0%, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado foi influenciado pelos segmentos alimentício e automotivo.

Mas a principal contribuição partiu, na verdade, do crescimento de 26,6% do segmento farmacêutico, que, desde o ano passado, cresce com a atração de grandes fabricantes de medicamentos, vindos de São Paulo e do exterior.

De olho na liberação de patentes de remédios em cinco anos, as multinacionais instalam-se no Estado para ensaiar a produção de produtos de grande apelo comercial.

No entanto, na hora de escolher onde instalar seus laboratórios de pesquisa e desenvolvimento — fatia de maior valor nesse segmento industrial — a opção continua sendo São Paulo e o Rio de Janeiro.

O Estado acabou de perder a disputa com o Rio pela instalação do laboratório Bionovis, um investimento de R$ 1 bilhão, criado a partir da união de quatro produtoras brasileiras — EMS, Ache, Hypermarcas e União Química.

Na nova unidade, serão fabricados e pesquisados medicamentos biotecnológicos, usados nos tratamentos de doenças complexas, como o câncer. A importação desse tipo de remédio custa ao governo, atualmente, US$ 6 bilhões ao ano.

O início da construção está previsto para 2014 e a produção começará em quatro ano s, quando o mercado nacional passará a consumir, pela p rimeira vez, os primeiros biotecnológicos fabricados internamente.

A Bionovis chegou a considerar Goiás como uma das opções para a instalação da nova empresa, mas acabou optando pelo Rio por uma questão de oferta de mão de obra especializada e da formação de parceria com a Fundação Oswaldo Cruz e o Instituto Vital Brazil.

A aproximação com as instituições federais facilita a negociação das fabricantes com o Ministério da Saúde, que irá adquirir os remédios cujas patentes serão quebradas daqui a cinco anos. “Farmacêuticas de grande porte estão comprando ou formando parcerias com as tradicionais indústrias locais , o que é muito positivo para o Estado.

Mas os escritórios, onde os investimentos são decididos, e todo o polo de pesquisa, que é o segmento do setor de maior valor agregado, não estão em Goiás”, reclama o economista da Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg) Welington Vieira.

O principal foco de atração do investimento de fabricantes de remédios mais complexos e de laboratórios de pesquisa é o Rio de Janeiro, que neste ano, venceu a disputa pela instalação de três grandes projetos, um investimento total de R$ 3,1 bilhão, a partir do ano que vem. Além da Bionovis, a B.Braun aportará R$ 600 milhões e a Farmanguinhos, da Fiocruz, R$ 1,5 bilhão.

O governo fluminense concede benefícios tributário e financeiro para vencer a gerra pelo investimento farmacêutico, sem contar a presença de universidades de peso, como a UFRJ, e da Fiocruz e do Instituto Vital Brazil.

“A biotecnologia tem se mostrado um caminho promissor e a expiração das patentes de medicamentos biotecnológicos importantes pode ser a oportunidade para a entrada efetiva da indústria farmacêutica nacional em uma nova trajetória tecnológica.

Cabe ao Estado incentivar o desenvolvimento por me io de políticas públicas”, afirma o secretário de Desenvolvimento do Estado do Rio de Janeiro, Júlio Bueno.

Goiás também concede incentivo, mas seu foco é a facilitação para a compra de insumos no mercado internacional, o que é bastante benéfico para o polo de genéricos da cidade de Anápolis, já que não há produção regional de matéria-prima.

Sócio da empresa goiana Gênix Farmacêutica e presidente do Sindicato da Indústria Farmacêutica do Estado de Goiás (Sindifargo), Ivan Teixeira afirma que é possível importar insumo por Goiás com uma vantagem de 73% sobre o Rio e São Paulo, por causa da redução da alíquota de ICMS incidente sobre a importação.

O grande atrativo de Goiás, no entanto, é a sua posição e infraestrutura logística. Teixeira conta que há um assédio constante de grandes grupos para a formação de parcerias com o objetivo de distribuir a produção para o restante do país e também para outros países da América Latina.

Ele próprio, produtor de cápsula gelatinosa dura, está em negociação com um grupo indiano neste momento.

O governo local realiza hoje uma audiência pública com empresários para apresentar o projeto de construção de um polo logístico multimod al, em área contígua ao aeroporto de cargas e ao por to seco de Anápolis.

Faz parte do projeto a instalação de um espaço para frete aéreo, um centro rodoviário de cargas, um terminal ferroviário de cargas, armazéns gerais (refrigerados e de produtos de base e graneis) e um polo de serviços e administração logística.

O investimento é de R$ 1,3 bilhão, dos quais R$ 574 milhões serão bancados pelo governo estadual.

“A intenção é atrair inteligência e tecnologia para o projeto.

Daí a ideia de termos consórcios de investidores, que abriguem, necessariamente, empresas operadoras de logística, inclusive multinacionais”, afirma o secretário estadual de Planejamento, Giuseppe Vecci.

Fonte: Brasil Econômico
Autor: Fernanda Nunes