Pesquisadores da USP de São Carlos usam fotos para detectar melanoma

 Sistema analisa imagens de pacientes e compara com banco de dados.

Intenção é, no futuro, fornecer o programa para médicos e agilizar triagens.

Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) estão desenvolvendo em São Carlos um sistema de identificação de melanoma, tipo mais grave de câncer de pele, por meio da análise de fotos amadoras. Com o estudo, os cientistas esperam diminuir a sobrecarga dos especialistas e agilizar o diagnóstico desse tipo de tumor, que acomete cerca de seis mil brasileiros por ano, com 1,5 mil mortes, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca).

O sistema funciona pela detecção de padrões em imagens, como um leitor de QR Code. A diferença é que, no lugar dos códigos, estão características das manchas na pele, muito mais complexas. Um programa analisa as fotos dos pacientes – inclusive imagens captadas com o celular compara com um banco de dados composto por 143 fotografias ce didas por profissionais dos hospitais A. C. Camargo e Amaral Carvalho e define se os sinais correspondem aos da doença.

Percurso
Segundo Gonzalo Travieso, professor do Instituto de Física de São Carlos (IFSC), a ideia para a pesquisa surgiu do Grupo de Óptica, que trabalha com aplicações na área da saúde. A primeira etapa foi realizada no mestrado de David Antonio Sbrissa Neto, seu orientando, e continua agora no doutorado dele.

“Desde a década de 90 há a intenção de usar o computador na verificação de casos de melanoma. A vantagem do nosso sistema é que as pesquisas anteriores trabalham com imagens de alta resolução, produzidas, com escala, iluminação, e aqui não há esse controle. Nossa ideia considera a rotina de um ambulatório, em que os atendentes podem tirar a foto com o celular“, explicou Neto, qu e comentou ainda as dificuldades desse tipo de identificação.

Vai funcionar como um pré-exame, em vez de ir
direto para a biópsia“
Gonzalo Travieso, professor da USP

“O melanoma pode ter diversas características - variação de cor, tamanho, forma - e é difícil trabalhar com ele justamente por causa dessa variabilidade. Já as manchas benignas têm um certo padrão, são mais regulares, mais \'bem comportadas\'“, afirmou. O que o sistema faz é justamente verificar se as manchas seguem padrões regulares - encontrados em tumores benignos - ou não.

Fila de espera
Travieso pontuou que nem sempre pessoas com manchas de pele têm acesso a dermatologistas e, quando têm, as consultas e exames podem demorar a ocorrer, adiando o tratamento. Tudo isso foi considerado no projeto. “O Brasil é um país grande e é difícil ter um equipamento muito sofisticado nas diferentes unidades de saúde“, completou Neto.

A intenção do estudo, segundo eles, é diminuir as filas e melhorar a triagem. “Fornecer o sistema para clínicos gerais, por exemplo, para que eles possam usar e saber se pode ser um melanoma”, disse Travieso.  “Vai funcionar como um pré-exame, em vez de ir direto para a biópsia”, explicou.

De acordo com os pesquisadores, a expectativa é de que o sistema esteja disponível para testes dentro de quatro anos. “Para ele ter uso clínico, funcional, tem que passar por protocolos, testes“, comentou Neto.

Até lá, eles pretendem aumentar o banco de imagens e treinar o programa para outras manchas. “No momento, trabalhamos co m melanoma e nevo, m as há mais tipos frequentes”, disse Travieso.

 Fonte: Portal G1