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Depressão aumenta o risco de infarto
Nem sempre a depressão é caracterizada por tristeza e falta de interesse nas atividades cotidianas. A doença pode se manifestar como infartos e AVCs (acidente vascular cerebral).
‘Esse tipo de reação é mais comum em homens, apesar da doença atingir duas ou até três vezes mais mulheres’, aponta a psiquiatra Alexandrina Meleiro, doutora em psiquiatria pela USP.
A médica explica que o paciente deprimido sofre alterações endócrinas e imunológicas graves, que afetam o funcionamento do cérebro.
‘Algumas são muito negativas, como o aumento do colesterol e dos triglicerídeos na corrente sanguínea, da pressão arterial e aceleração da frequência cardíaca’, alerta a psiquiatra.
Tudo isso representa uma grande ameaça ao coração.
Outro agravante para o coração é o cortisol. O hormônio é liberado em pessoas sob estresse, fator presente em muitos portadores de depressão.
‘O cortisol deixa o sangue mais espesso’, aponta a psiquiatra.
Por outro lado, quem sofre de problemas cardíacos também apresenta maior predisposição para desenvolver depressão. ‘A prevalência da depressão na população em geral é de 4% a 7%, enquanto nos portadores de doenças coronarianas ela salta para 14% a 47%’, compara a médica.
Provavelmente, acreditam os especialistas, as limitações impostas aos infartados em recuperação sirvam de estopim para a depressão.
Como o risco de infarto é maior em pacientes com depressão, é necessário ainda mais cuidado para combater os fatores de risco para doenças cardiovasculares. Mas isso não é simples.
‘Como uma pessoa deprimida pode ter motivação para cuidar de sua alimentação e fazer exercícios com regularidade?’, questiona Alexandrina.
A situação pode ser ainda mais grave se o paciente já apresentar fatores de risco para o coração, como excesso de peso. A intervenção médica deve ser rápida, com terapia e uso de medicações.
Os medicamentos contra depressão, antes de surtirem efeito sobre as alterações neuroquímicas da doença, já promovem melhoria na capacidade motora. Por um lado, isso traz a vantagem de facilitar a adesão aos programas de exercícios. Por outro, é um momento delicado no qual o paciente tem mais chance de cometer suicídio.
‘Antes do tratamento, ele não tinha nem forças para se matar. Agora, no começo da medicação, ele pode obter essa força antes da medicação surtir efeito sobre a depressão’, alerta a psiquiatra.
Para agravar mais a situação, o suicídio ainda é tabu em muitos consultórios médicos. ‘Acho que muito médicos não perguntam se o paciente tem pensamentos suicidas porque eles não sabem o que fazer com a resposta’, comenta.
Mas é justamente o ato de perguntar que dá início à prevenção. ‘Se o paciente disser que pensa em tirar a própria vida, o médico deve convencê-lo a desistir’, orienta. Se isso não for possível, medidas mais radicais se fazem necessárias, como alertar familiares ou propor uma internação.
O medicamento leva alguns dias para surtir um efeito mais amplo e, depois de duas semanas, o paciente tem o risco de suicídio bastante reduzido. Mesmo assim, o acompanhamento multidisciplinar deve continuar, com terapia, medicação e exercícios.
Fonte: IG