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Ebola gera especulação com cacau
O surto de vírus Ebola no oeste da África, que já causou a morte de mais de 1.200 pessoas, passou a atuar como novo fator de sustentação aos preços internacionais do cacau nos últimos dias. Os países que estão com dificuldades para combater a epidemia, como Libéria e Guiné, fazem fronteira com o maior produtor global da amêndoa, a Costa do Marfim, e estão próximos de Gana, que abriga o segundo maior parque cacaueiro do mundo. Alguns analistas e investidores passaram a temer que um eventual avanço da epidemia para os principais fornecedores da commodity provoque o fechamento de portos e interrompa as exportações de cacau.
Na segunda-feira, os contratos futuros de segunda posição de entrega dispararam na bolsa de Nova York e alcançaram US$ 3.260 por tonelada, maior valor desde 3 maio de 201 1. Ontem, um intenso movimento de realização de lucros forçou uma retração de 1,72% desses contratos, que fecharam a US$ 3.204 a tonelada. Mas a expectativa é de novas valorizações - ou, no mínimo, de forte volatilidade - nos próximos dias.
A possibilidade d e que haja problemas para o escoamento de cacau no oeste da África ocorre justo às vésperas de uma esperada safra recorde na região. Estima-se que a produção marfinense deva somar 1,8 milhão de toneladas na temporada 2014/15, enquanto a expectativa é que a ganense supere 900 mil toneladas, segundo Thomas Hartmann, da TH Consultoria, com sede em Salvador. O volume deverá representar 64% da produção mundial esperada para o próximo ciclo (4,2 milhões de toneladas), que começará “oficialmente“ em outubro.
Até agora, a Nigéria foi o único país com produção relevante de cacau atingido pela epidemia. Foram relatados 12 casos da doença no país. Três pessoas morreram.
Alguns investidores duvidam, por ém, da capacidade de controle da epidemia na região. Mas as informações no mercado ainda são desencontradas. Um trader cita, inclusive, que há preocupação de que o vírus seja levado a outras fronteiras em carregamentos de cacau, apesar de a Organização Mundial de Saúde (OMS) garantir que o contágio ocorre apenas por meio do contato com fluidos corporais de pessoas infectadas.
De acordo com Hartmann, os temores em torno das consequências do avanço do vírus, por enquanto, serviram apenas como motivo para os investidores especulativos valorizarem a commodity. “O Ebola é apenas um elemento de especulação. Não tem sustentação“, afirma o analista.
Apesar de a oferta africana ainda não ter sido afetada, a alta dos preços em Nova York já se reflete no Brasil, que desde janeiro importou 38 mil toneladas de cacau de Gana. Desde o início do mês até segunda-feira, o preço médio da arroba do cacau na Bahia apurado pela Central Nacional de Produtores de Cacau subiu 2,7 %, enquanto as cotações na bolsa nova-iorquina acumularam alta de 2,32% no mesmo intervalo.
As cotações do cacau estão em ascensão desde o início do ano, sob a influência de dados que indicam forte demanda mundial por chocolate, principalmente nos mercados e mergentes. Na Ásia, a indústria consumiu 161,8 mil toneladas de cacau no segundo trimestre, 5,2% acima do volume utilizado no mesmo período de 2013. “Há noticias de que essa expansão dos mercados emergentes estaria se desacelerando. Mas a informação desses lugares é precária“, disse o analista da TH Consultoria.
Na Europa, responsável por 40% da produção global de derivados de cacau, a atividade teve leve recuo no segundo trimestre, diante da queda das margens do segmento nos meses anteriores e da difícil retomada do crescimento econômico no continente. A moagem das principais indústrias europeias caiu 0,7% e totalizou 307,94 mil toneladas.
O quadro de oferta e demanda esperado para o fim da safra glob al em vigência, que se encerra em 30 de setembro, ainda é “altista“. A última projeção da Organização Internacional do Cacau, divulgada no fim de junho, é de déficit de 75 mil toneladas. Mas, com a produção atual do oeste africano acima do esperado, H artmann calcula que poderá haver até “um pequeno superávit“, o que poderá levar a correções para baixo nos preços.
Fonte: Valor Econômico
Autor: Camila Souza Ramos