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Mosquito contra a dengue será solto no Rio
Ele ocorre num momento em que uma epidemia mortal da doença atinge a Malásia e há registros recentes no Japão, o primeiro surto nesse país em 70 anos. A doença, transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, também apareceu em alguns estados do sul dos Estados Unidos, incluindo Flórida e Texas.
Não há cura para a dengue, um vírus que com frequência causa febre alta, dor muscular intensa e convulsões. Em casos extremos a doença pode ser fatal. O tratamento praticamente se limita a manter o paciente hidratado. O avanço da dengue tem sido considerado impossível de deter.
Agora, uma equipe liderada por cientistas australianos está se preparando para lutar contra a doença soltando um exército de mosquitos criado especialmente com uma bactéria chamada Wolbachia, que, segundo eles, pode praticamente eliminar a dengue. Milhares de mosquitos criados em laboratório foram recentemente soltos na antiga cidade indon ésia de Yogyakarta. Um outro grande número de mosquitos deve ser liberado pelos cientistas em favelas no Rio de Janeiro, no fim deste mês.
A ideia é que esses mosquitos portadores da doença se reproduzam com os insetos selvagens, que então transmitirão a bactéria para seus descendentes, tornando-os imunes à dengue. Com o tempo, os pesquisadores esperam que as populações de mosquitos na natureza capazes de transmitir a doença acabem diminuindo drasticamente.
“Não há nenhuma proteção real, no momento, contra a dengue“, diz Scott O`Neill, chefe de programa do projeto internacional chamado “Elimine a Dengue“, que está liderando as experiências. Os esforços atuais para conter a doença, incluindo pulverizar inseticidas e reduzir os habitats de reprodução dos mosquitos, não têm sido suficientes. “A doença está cada vez mais grave, os surtos ficando mais frequentes e a distribuição geográfica está cada vez maior“, diz ele.
Outras áreas programadas para futuros experimentos incluem Medellín, na Colômbia, e o destino turístico vietnamita de Nha Trang.
O projeto “Elimine a Dengue“ foi iniciado por O`Neill em 2005 e agora envolve cerca de 60 pesquisadores em dez países. O`Neill, que tem 52 anos de idade e é reitor de ciências na Universidade de Monash, em Melbourne, na Austrália, descobriu que as bactérias Wolbachia podem invadir certos insetos enquanto estudava doenças tropicais pouco conhecidas. Mais tarde, foi pioneiro no uso da bactéria para combater a dengue. Foram necessários anos para desenv olver a técnica para implantar a Wolbachia em mosquitos Aedes aegypt, nos quais ela não ocorre naturalmente. As bactérias parecem interferir na capacidade do vírus da dengue de se replicar.
“O que me interessou na Wolbachia foi como ela podia invadir populações de insetos e se conservar e como seria um bom veículo para inserir certos traços em populações de mosquitos“, afirma O`Neill.
Até agora, a pesquisa sobre os mosquitos portadores da bactéria Wolbachia envolveu testes em laboratório e testes de campo em pequena escala, com resultados encorajadores. No ano passado, um surto de dengue na cidade australiana de Cairns, com 125 pessoas infectadas, levou O`Neill e sua equipe a soltar mosquitos em alguns bairros. O resultado foi uma redução acentuada no número de insetos c apazes de transmitir a doença, diz ele.
O`Neill diz que a equipe do “Elimine a Dengue“ continuará acompanhando as comunidades onde os mosquitos Wolbachia estão sendo soltos para avaliar se há menos casos de dengue do que em áreas onde os insetos criados em laboratório não foram introduzidos.
O projeto “Elimine a Dengue“ conseguiu captar US$ 40 milhões em financiamento nos últimos dez anos, já que as pesquisas mostraram bom potencial.
“Estamos entusiasmados com o progresso do projeto até o momento e com seu potencial de gerar uma abordagem sustentável ao controle da dengue“, disse Fil Randazzo, po rta-voz sobre a dengue da Fundação Bill e Melinda Gates, que contribui com o projeto. “É import ante notar, porém, que a pesquisa ainda está em curso e o conceito ainda não foi comprovado“, ressaltou.
Antes da liberação de mosquitos Wolbachia no Brasil, O`Neill diz que a equipe do projeto reuniu-se com moradores da área em grupos focados no assunto e foi de porta em porta para responder às dúvidas. As pessoas queriam saber se a técnica é segura e se iria perturbar o equilíbrio natural do meio ambiente. Ele diz que explicou que a bactéria Wolbachia ocorre naturalmente em outros insetos que picam as pessoas e, aparentemente, não causou efeitos nocivos.
A Organização Mundial de Saúde estima que entre 50 milhões e 100 milhões de pessoas em todo o mundo são infectadas anualmente com dengue, principalmente em regiões da Ás ia e Oceania. Os cientistas advertiram que as mudanças climá ticas podem ajudar a doença a se alastrar por áreas turísticas, como o sul da Europa.
Apesar de a malária infectar e matar mais pessoas anualmente do que a dengue, há medicamentos para ajudar a prevenir e tratar a doença, causada por um parasita. A Sanofi Pasteur, laboratório farmacêutico francês, está desenvolvendo uma vacina contra a dengue, que é causada por um vírus, mas os resultados mostraram que ela não é eficaz em muitas pessoas.
“O que estamos fazendo agora não está realmente funcionando muito bem“ para evitar que a dengue se alastre, diz O`Neill. “Mas estamos nos sentindo confiantes e muito animados sobre o que os próximos anos podem trazer.“
Fonte: Valor Econômico
Autor: Rob Taylor